O que aconteceria se Paulo e Pedro voltassem hoje?

O veredicto paulino e petrino do mundo atual coincidiria: “vocês estão às vésperas do antiCristo!”. A análise eclesial os calaria: “Como nós nunca pensamos nisso? E se ajoelhariam diante do Papa”…

Paulo e Pedro-3A grande Simone Weil lapidou uma frase magistral que esta Escola põe em sua epígrafe mais cara, devido ao valor imprescindível de seu raciocínio à própria razão de ser desta instituição, pois jamais faria sentido em se APROFUNDAR a Teologia, se não se partisse do fato de qualquer pensador que se preze deve “procurar ver em que sentido o contrário de todas as afirmações é verdadeiro”. Assim, ampliar e aplicar esta máxima a todo pensamento humano e divino (“filtrando” a própria Bíblia com base em Weil) e assim ficar livre do toda mediocridade, é para nós prêmio da soberana vocação em Cristo que repousa sobre nossos ombros.

Não sabendo se o leitor está amparado por boa leitura e se está familiarizado com aquela brilhante autora, prosseguimos na divina exatidão da “recomendação” de Simone Weil e reconstruímos toda a história planetária (com base na Palavra de Deus e em CS Lewis), fazendo malabarismos com a mente e a terminologia respectiva, como ensinava o mestre Costa Matos, quando de sua verve poética. Um destes malabarismos seria procurar em que sentido um possível retorno dos apóstolos ao mundo moderno os faria pensar como máquinas enferrujadas, ou como computadores de ponta, enxergando aquilo que a Evolução do Homem ensejou para suas mentes não-tecnológicas de 2.000 anos atrás.

Com efeito, um bom tempo de peregrinação intelectual aos anais da História da igreja cristã, auscultando e fuçando em tudo o que ficou explícito e implícito ao longo dos séculos, certamente levaria os apóstolos a arrepios espantosos, pois muitas coisas deixariam pasmos aqueles que o próprio Cristo ensinou. Vamos ver se conseguimos bons exemplos para iluminar este raciocínio.

Facilidades da tecnologiaUma das coisas que os dois apóstolos gigantes deduziriam do mundo moderno é que em muitas coisas nós passamos a complicar o meio de campo, e em muitas complicações de antigamente nós nos resolvemos magistralmente, com uma simplicidade louvável para qualquer cristão de sua época. No primeiro caso, uma simplicidade apostólica que nós não temos mais hoje é a desburocratização da igreja e da ordenação episcopal, que naquela época acontecia por uma simples imposição de mãos dos discípulos líderes (ministros) e a igreja andava muito melhor, como tudo o que dispensa os chamados “entraves burocráticos” (que o digam os militares em campanha!). No segundo caso, uma simplicidade nossa que os apóstolos nem de longe sonhavam em ter é a profusão de Bíblias – Velho e Novo Testamentos – distribuídas e a distribuir com o povo, e a facilidade com que os leigos podem ler, já que todos os livros estão encadernados e colecionados em ordem didática, enumerados em capítulos e versículos com referências elucidativas, facilitando a visão de conjunto de todo o legado de Jesus Cristo (sem contar as chamadas “Bíblias de Estudo” e aquelas extremamente facilitadoras, que já vêm com certeiras e didáticas “notas de rodapé”).

Estes são apenas dois exemplos agora lembrados de propósito para fixar bem a noção das diferenças entre o tempo de hoje e o dos apóstolos, em relação a questão da facilidade/dificuldade de se levar à mensagem de Deus à Humanidade. Todavia e contudo, o que queremos pontuar aqui está noutro ramo de entendimento, e nos adiantamos a enfocar que o tema escolhido é o da incidência histórica das profecias de Jesus, que os apóstolos certamente nos ajudariam muito a confirmar, e também ao mesmo tempo ficariam pasmos com as coisas que nós já vivenciamos daquelas profecias, e de como nos comportamos diante delas e como sobrevivemos a elas.

Isto se refere, por um lado, ao fato de que o cenário atual está pincelando, com as cores mais vivas possíveis, todo o medonho quadro apocalíptico das predições de Jesus transmitidas pelos autores canônicos, e, por outro lado, está iluminando, com faróis potentes, toda a derrocada moral da cristandade, soterrada sob toneladas de vícios incompatíveis com o Evangelho, e por isso mesmo deixando no ar a estranheza de porque Deus ainda não interveio, ou porque sua longanimidade parece agora muito maior do que aquela que Ele usou ao tratar de Sodoma e Gomorra!

Dia-do-Juizo-Final-1Aliás, os apóstolos ficariam estupefatos quando lessem (apressados pelas urgências infernais da chegada do antiCristo) num trecho cirúrgico do Livro das Revelações, aquela sentença aterradora de Deus dizendo “sai dela povo meu”, e ficariam a se perguntar, abismados, COMO É QUE AINDA NÃO FOMOS RETIRADOS DE CENA, quando gente muito mais santa foi catapultada para o alto em situações muito menos comprometedoras com a imoralidade do lugar onde viviam! Ou seja: eles estariam orando e perguntando a Deus: “Pai, por que essa gente morna ainda está aqui, quando gente bem quente e bem fria tu vomitaste de tua boca sem hesitação? O que será que tais indivíduos ainda podem fazer aqui, já que não devem ser contados nem entre o trigo nem entre o joio?”…

E depois da oração os apóstolos sairiam dali e iriam correndo procurar a igreja com maior número de raízes históricas com a comunidade primitiva dos nazarenos, e passariam talvez semanas ou meses de intensa busca, não raras vezes eivada de sinais confusos e ameaças de morte por parte de muitas igrejas que eles não visitaram.

Enfim alguma coisa os levaria até o Vaticano e eles entrariam pelos portais da Roma moderna, contra quem o mundo tem pesadas acusações, inclusive de pedofilia acobertada pelo Sumo Sacerdote. Sem saber mais a quem recorrer, os apóstolos aceitariam dormir “nos estábulos do Papa”, enquanto durasse a sua peregrinação na miséria de uma época de desemprego gritante, e enquanto durassem as suas longas visitações ao Magistério eclesial.

Chegou então o tempo em que o Magistério os entendeu direito (sua visão de mundo é tão diferente da atual que até para pedir água, o jeitinho é outro) e conseguiu equacionar a última resposta que eles precisariam para comprovar, para eles mesmos, que haviam descido DENTRO da Grande Tribulação. Isto é: quando eles levantaram a pergunta mais difícil (a saber: “como uma igreja tão imoral pode ser a legítima Noiva de Cristo?”) que era a última à qual todos os raciocínios levavam, ouviram os padres magisteriais responderem:

Igreja iluminada na Parusia“Aí está a questão! Aí está a chave deste enigma: a Noiva do Cordeiro iria ficar, a rigor, cada vez mais imunda, quanto mais se aproximasse a Grande Tribulação! E esta Noiva, apodrecida e moribunda, daria ao seu Noivo uma missão muito mais difícil, mas também muito mais gloriosa e honrada de todas, a saber, que só Ele pôde descer ao mais profundo lamaçal para buscá-la e lavá-la com seu sangue, para apresentá-la mais branca que a neve no centro do Grande Julgamento! E como disseram Isaías e outros profetas, todos se abismarão quando ela ressurgir triunfante e radiante, de fato, cheia de estrelas e raios gloriosos sobre sua cabeça, aquela cabeça onde um homem de carne e osso usava uma mitra!”. E os apóstolos se ajoelharão diante do Papa, quando entenderem que ninguém sairia limpo do planeta em ebulição, e que só o amor incondicional lavaria a história da Igreja.

O capítulo final seria justamente o cumprimento da profecia “sai dela povo meu”, e agora a Igreja inteira se eleva como o Senhor na ascensão. A velha Sodoma, que tanto conquistou corações neste século, inclusive atraindo-os de dentro do próprio Cristianismo, está também abismada com a chegada da “Grande Meretriz”, que ela julgava “sua mestra”. Mas entenderá que, assim como foi a misericórdia aplicada sobre um único justo que dela escapou (Ló), ali também ela estará em razão de um único justo ter-lhe lavado por inteiro, expondo pecados muito maiores nas outras. Enquanto ela morreu e ressuscitou com sua fraqueza carnal total, as demais igrejas morreram por sua incoerência doutrinal, e nem deram fé que precisaram de muito maior misericórdia.

 

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