O radicalismo bíblico na intolerância ao pecado

Embora a mensagem bíblica do perdão irrestrito seja das mais abrangentes da Revelação, as exortações contra o pecado assumem contornos aterradores para o coração humano, e Deus tinha razão em se expressar assim.

Intolerância bíblica contra o pecadoFoi o Cristianismo que explicou a abrangência do pecado para iluminar as densas trevas inauguradas por Adão e Eva, e o fez de modo muito mais esclarecedor, para não dizer simples, porque de simples não tem nada. Pelo contrário, a complexidade do tema é o que tem levado a própria Igreja de Roma, fundada por Jesus na rocha que era São Pedro, a tentar, em nome de agradar as massas e aumentar seus quadros, contar para o mundo uma história maternal, mas daquele tipo de mãe-avó, que não apenas perdoa tudo, mas até fecha os olhos para toda a libertinagem de seus filhos.

Foi assim que a Igreja de Jesus com sede em Roma nos explicou, de modo sábio e didático, que existem 4 áreas onde o pecado incide, e ela conta esta história no início de todas as santas missas, quando pede: “Para celebrarmos dignamente os santos mistérios, confessemos os nossos pecados: confesso a Deus todo-poderoso e a vós irmãos, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa”. Com isso sempre nos lembramos do valor precioso de se fundamentar a nossa fé na sabedoria dos primeiros mestres do Cristianismo, pois neste mister foram eles que enxergaram e entenderam o portentoso perigo do pecado, pois a mínima errância humana empurra de novo o Cristo para a cruz, como muito bem explicou o autor da carta aos Hebreus (Hb 6,4-6). Este fato em si e somente ele, já seria suficiente para calar fundo em nosso coração, pois o mínimo tropeço nos torna algozes de Jesus, levando-O à ignomínia e ao bullying da via crucis.

Maria Madalena aos pés de JCEntretanto, em toda a história da Humanidade e nesta história em particular, o dano irreversível do pecado original na memória humana leva ao efeito desastroso de esquecermos esses trechos das Escrituras onde a intolerância ao pecado aparece mais clara e contundente, e até aquele trecho onde o desconhecimento da Bíblia foi diretamente relacionado à nossa constante errância (Marcos 12,24), se perde pelo esgoto de nossa desmemorização, e aí chegamos à pieguice do perdão-cego, que recebe Maria Madalena e não diz o final da conversa, omitindo o “vai e não peques mais”, como é moda hoje em dia.

Assim, contrariando a desmemorização popular, decidimos tratar o assunto com base em alguns trechos das Escrituras, os quais serão colhidos da versão revista e atualizada da SBB, versão 1969, RJ, do padre João Ferreira de Almeida. Nossa escolha recai sobre as seguintes passagens:

(1a) Salmo 39,5: Após investigar o Velho Testamento e ver que Salomão pontuava seus sermões moralizantes em cima da vaidade humana, com a qual Salomão dizia que dela todo mundo é culpado (Lewis foi ainda mais radical e explicou que a vaidade é o maior de todos os pecados, porque ela também é orgulho e soberba), encontramos nos salmos um trecho onde o autor canônico radicaliza e diz, de modo devastador até para crentes que se acham muito firmes: “Na verdade todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade”. E não para aí: outro salmista bronqueou mesmo e perguntou: “quem há que possa discernir as próprias faltas? [pois temos falhas ocultas]” (Salmo 19,12); e novamente Salomão pergunta: “Quem pode dizer: purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?” (Provérbios 20,9). Enfim, são passagens impressionantes, cujo teor nos obriga a pensar no perigo gritante da errância, e de como a Humanidade está enredada num lamaçal medonho de sair e difícil de perdoar – sobre a dificuldade do perdão, o leitor deve ver que Jesus contou que para Deus é mais fácil curar um aleijado de nascença do que perdoar pecados (veja em Marcos 2,9).

Sou seu inimigo pq disse a Verdade(2a) Mateus 12,36 – aqui o próprio Jesus radicalizou e disse que para alguém pecar e ir para o Juízo Final com dívida, basta escorregar com a língua e dizer uma palavrinha besta por aí. No trecho, está escrito o seguinte: “Pois de toda palavra frívola que os homens proferirem, hão de dar conta no Juízo Final”. Ora, Jesus sabe o quão difícil é controlar nossa língua! (Tiago 3,2-9) e mesmo assim nos ameaçou severamente os lábios, ao ponto de dizer que é um pecado da fala que nos conduz ao Inferno, chamado “blasfêmia contra o Espírito Santo”. Veja a explicação NESTE link de nosso estúdio.

(3a) Mateus 15,19 – Jesus aponta a fonte da maldade bem para dentro de nosso peito e diz, que é “Do coração que procedem os maus pensamentos, os assassinatos, os adultérios, a prostituição, os roubos, os falsos testemunhos [palavras frívolas], as blasfêmias, etc.”, independente de haver dito que “o Reino de Deus está dentro de nós”! Eita coração podre, sô! (Leia Jeremias 17,9): Tão podre que a única pergunta é: “Como o Reino de Deus pode estar dentro de nós? Então Deus ama a imundície ou o Reino só está em nós quando o coração humano for lavado pelo sangue do Cordeiro?”… Tss-tss…

(4a) – Mateus 5,29-30: Jesus chega ao máximo do radicalismo quando diz, visando gerar o pavor de ofender a Deus, que: “se nossa mão direita nos faz pecar [lembrar da masturbação agora], que devemos arrancá-la para não irmos com mão e tudo para o inferno!”; e pior, disse também que, “se nosso olho nos faz pecar [lembrar do trecho anterior em que Ele falou de olhar com a intenção impura para uma mulher], devemos arrancá-lo para não irmos com olho e tudo para o inferno!”. Ora, foi tão escandaloso este radicalismo de Jesus, que esta passagem nos obriga a admitir um perigo sério contra as Escrituras, a saber, o de não usar de interpretação literal, o que pode até invalidar outros trechos igualmente importantes para a salvação, e cujo único sentido é o literal mesmo! [Duro é este discurso: quem o pode ouvir?]…

Padre Abib(5a) – Judas 23: Numa contundente radicalização, Judas (irmão de Thiago) pediu que nós servos de Deus “Detestássemos até a roupa contaminada pela carne” (carne é um termo até mais abrangente do que ‘pecado’, já que a carne não é ruim em si, mas apenas simboliza o veículo por onde nossos pecados se tornam visíveis, enfrentando até a vergonha alheia e reimpondo-se aos outros com novos argumentos! O padre Jonas Abib explicou que todo pecador quer que os outros também caiam no mesmo pecado, para justificar uma escolha coletiva, e não individual, supondo com isso escapar do Juízo por uma mistura social bem tolerada). Logo, se devemos não apenas evitar pecar, mas até chegar perto de uma roupa com a qual alguém pecou, então isto prova que o pecado não está apenas no coração do pecador, mas também nas coisas que toca, cheira, lambe, deita, etc. Eis porque um cristão não deve procurar motéis para transar com sua esposa, mesmo que o motel seja de propriedade de um pastor ou outro crente!

(6a) – I Tessalonicenses 5,22: “Afastai-vos até da aparência do mal”. Aqui Paulo lascou tudo! Porquanto se considerarmos que nem tudo que reluz é ouro, e que as aparências enganam, então ficar longe até da aparência do mal pode nos levar ao isolamento radical, e isto explica o ministério das irmãs carmelitas, cujo andamento na pós-modernidade já está para lá de ameaçado, como o leitor pode conferir NESTA entrevista com uma Carmelita. Porém elas têm razão e a Igreja de Jesus teve sobejas razões para canonizar o ministério delas, porque a única vida segura na santidade é o isolamento, sem levar em conta os pecados íntimos individuais das freiras. O isolamento, portanto, teria que ser “na absoluta solidão das montanhas”, como faziam os monges eremitas medievais, sendo isto ainda assim apenas uma garantia de se evitar pecados compartilhados, ou coletivos, manchando o bom nome do Evangelho. Enfim, a luta contra o pecado é a mais terrível batalha, e não é pra menos que Paulo pediu tantos reforços nas nossas defesas espirituais em Efésios 6,10-18. Olho vivo!

Frase antiTeologia da Prosperidade2(7a) – Mateus 5,28: “Aquele que olhar para uma mulher com a intenção impura, já adulterou com ela”. Aqui não há como fugir: o pecado não está apenas NA PRÁTICA da maldade, mas até mesmo no pensamento que o deseja praticar, antes mesmo de ele virar desejo. Foi daqui que a Igreja de Jesus aprendeu e ensinou as 4 áreas do pecado, aquelas do início da missa, onde se ouve “pequei por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Assim sendo, e para a infelicidade geral da nação, ficamos pasmos e espantados quando vemos a mesma Igreja de Jesus sair, agora na modernidade, e dizer que se alguém tem um pecado apenas no pensamento, este não deve ser considerado pecado, pois não chegou à sua prática pecaminosa. Ora: onde isto se coaduna com as Escrituras que acabamos de estudar? Onde está na Bíblia qualquer tolerância para o pecado, quando vemos em todos esses trechos um radicalismo severo, onde uma mínima palavra condena ao Juízo e uma simples mentirinha leva o Cristo de novo à cruz?

É tudo uma bofetada só! Radicalismo bíblico? Se o leitor for cristão, saberá que Deus ama o pecador e odeia o pecado! Pois é este ódio ao pecado que transparece em todas as páginas da Bíblia e, com mais atenção, se perceberá que tudo o que é narrado ali tem a constante intenção subliminar de sempre atacar a raiz do mal, seja ela onde e como começa! É a batalha espiritual, a guerra pela posse da alma humana, que perfaz toda a construção do texto bíblico! Não é à-toa que a Igreja diz que é preciso comungar todos os dias, pois todo mundo cai em pecado alguns minutos após encerrar a missa! O leitor não lembra que João, por uma simples diferença de opinião doutrinária, ordenou que nós não recebêssemos em casa e nem sequer déssemos boas vindas a quem viesse à nossa casa e não trouxesse exatamente a mesma doutrina dele? Pois quem lhe recebesse estaria sendo cúmplice da visão errada das Escrituras… Confira em II João 10-11.

SonâmbuloCS Lewis também não deixou por menos, e creio que até radicalizou e apertou mais o nó cego desta questão toda, quando numa ocasião, após uma última batalha, contou que Aslam (Deus) recebeu no Paraíso anões pecadores e lhes perdoou de tudo, mas aos tais anões o perdão de nada adiantou, pois eles, embora já assentados no Paraíso, mantiveram-se obstinados em seus pecados, provando que todos os alertas bíblicos para o perigo das trevas são urgentes, necessários e absolutamente indispensáveis, pois quando o pecado vira vício, o vício cega irreversivelmente a alma e esta caminha sonambulamente para a perdição, e pior, achando bom a liberdade de perder-se.

Eis que assim a Palavra de Deus obriga a que seus pregadores não afrouxem as rédeas de sua pregação, fazendo delas verdadeiros e duros sermões moralizantes, pois tais sermões são, acima de tudo, alertas de perigos para os quais nem o poder de Deus pode ajudar!

Prezados: aqui mora o perigo. Se a Escritura disse que “passarão o céu e a terra, mas as Escrituras não passarão”; e se Jesus disse que “se alguém violar um destes mandamentos por mais pequenino que seja” (Mateus 5,18-20); e se o Senhor disse que temos que ser SANTOS como Deus é santo, ou pior, PERFEITOS como Deus é perfeito (Levítico 20,26 e Mt 5,48), então deve estar havendo alguma terrível transformação no seio de nossa Igreja, desesperada para garantir maior popularidade, para que ela subverta sua própria moralidade e admita pecados escabrosos como os que esta sociedade maligna e corrupta agora aplaude. E talvez nem fosse algo tão espantoso assim, pois a profecia de que o antiCristo se assentará no trono de Deus deve referir-se ao trono TERRESTRE de Deus (e não ao celeste), e esse trono pode muito bem ser a poltrona cardinal de São Pedro, no centro do Vaticano!

Enfim, qualquer pecado aplaudido pela sociedade corrupta não pode ser relativizado pela Igreja, nem que com isso ela perca IBOPE. Em tempo: Seja a promiscuidade das mocinhas da high society, seja o uso medicinal da maconha, seja o uso de roupas indecentes, seja o ficar e o beijar todo mundo nas baladas, seja o consumismo desenfreado, seja a relutância de subordinados às autoridades, seja a desobediência dos filhos aos pais, seja a criação de filhos pelas avós, seja o desejo secreto de experimentar outros tipos de sexualidade, enfim, qualquer coisa que ESTA ATUAL sociedade tolere, não pode servir de modelo para a Igreja programar as suas missões evangelizatórias, visando ganhar ESTAS almas corruptas para os seus quadros! Pelo contrário: a Igreja deve lutar pela QUALIDADE dos cristãos, e não pela quantidade de seguidores! Porque, até onde sabemos, a Igreja não está em concorrência numérica contra ninguém! Ela está sim, em obediência qualificada a Deus, visando dar ao Senhor almas que satisfaçam à sua santidade, pois sem santificação ninguém verá o Senhor.

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