Se Deus nos deu Livre-arbítrio, ninguém jamais o perderá

Se houve alguma época em que todos os cristãos andavam e cultuavam juntos, ela se deveu basicamente à correta noção teológica da hierarquia celestial, lugar para onde todos eles necessariamente se dirigiam… 

Crianças brincando livresVoltamos a este tema apenas para tratar do “Livre-arbítrio escatológico”, e aqui restringindo-se tão somente ao tema da “Liberdade dos Santos na Glória”, ou gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Então, sem mais delongas, podemos iniciar perguntando por que um Pai revogaria a Liberdade concedida aos filhos, se eles continuam a viver a santidade e a obediência? Ou qual pai ficaria triste com o pleno uso da liberdade por seus filhos já glorificados?

Com efeito, imaginemos a cena no Paraíso: Deus-pai presente entre os santos incorruptíveis e cada santo curtindo a liberdade por Ele outorgada e ratificada, agindo livremente e gozando da plenitude da felicidade eterna. Então uns santos vêm e vão; outros chegam e ficam; outros cantam e saltam de alegria; outros apenas escutam a orquestra de anjos; outros constroem casas colossais de cristal transcendente, daquelas tão automáticas que eles nem precisam tocar em controle algum para pedir-lhes um favor (elas adivinham o que os construtores/inquilinos querem).

Enfim, ali são vistas e vividas as inúmeras ações de total espontaneidade da parte dos filhos de Deus, em uma agenda interminável de tarefas, todas feitas com amor e sem cansaço algum. Todavia e contudo, há tarefas relativas a atendimento de outras tarefas, e tarefas de atendimento a pedidos de terceiros, dentro e fora do Paraíso.

Terraformação de MarteNeste sentido, como responde o Senhor a tarefas onde ELE é o Terceiro? Por exemplo: digamos que Deus tenha pedido aos anjos a terraformação de um planeta ainda sem vida. Como sua ordem é dada fora do tempo (o Paraíso é um lugar atemporal e extratemporal), os anjos a ouviram bilhões de anos antes do planeta ter sido criado. Então, quando um santo engenheiro ressurreto comunicou que iria ajudar na terraformação, nem precisou comunicar a Deus, e uma conversa com o anjo-engenheiro foi suficiente.

Ao contrário, quando um pedido “sobe da Terra a Deus”, acerca de uma obra que os anjos já haviam negado por ordem do Senhor, o pedido daquele santo engenheiro, com toda a liberdade de pedir, foi conjugado a outros milhares de pedidos de oração, e por causa disso Deus revê sua decisão (Gênesis 6,6) e pode atender à liberdade de todos. Da mesma forma, quando o pedido de uma só alma não encontra plena guarida nos planos do Senhor, mas vem adicionado de um pedido especial de um santo já ressurreto, Deus também pode rever tudo e atendê-lo, como se “revisasse” sua decisão em confiança ao santo ressurreto. Estamos entendendo tudo até aqui? Estamos mesmo? Vamos “desenvolver o argumento”.

Menino Jesus mamando em MariaEntão agora vem aquilo que poderíamos chamar de “o nó cego”. A saber: e se Deus, conquanto pai que não revoga o Livre-arbítrio de seus filhos outorgado ANTES de toda a obra da Criação, tiver decidido não atender a uma oração por acreditar que seu resultado não resultará num bem comum, mas depois receber de novo o mesmo pedido, só que agora o ouvindo de um santo ressurreto presente ao lado dEle?

Ou seja: se uma alma da Terra pediu alguma coisa que Deus entendeu como tendo um provável desfecho ruim, mas logo em seguida o mesmo pedido é repetido por uma alma ressurreta do Paraíso, que o repete EM CONFIANÇA ao primeiro suplicante, como Deus agirá em confiança do ressurreto? E mais: Como Deus se sentiria feliz em negar o Livre-arbítrio a ambas as almas? E se a segunda alma, a do salvo ressurreto, for a alma de sua própria mãe terrena, aquela a quem o Evangelho chamou “Maria”?…

Em primeiro lugar, é preciso entender que Maria está na Glória junto com todos os salvos. Em segundo lugar, que Maria goza daquela Liberdade Total que Deus jamais a negará, como nunca negou o Livre-arbítrio a ninguém! Em terceiro lugar, Maria está num ambiente atemporal e extratemporal, e por isso sua condição de mãe NUNCA deixou de existir ou nunca foi revogada, e toda a experiência pessoal de Jesus aos pés de Maria, lá na casinha humilde de Nazaré, continua em vigor e “em ser” por toda a Eternidade! O Menino Jesus que mamou em Maria ainda sente o gosto do leite materno hoje mesmo, e agora mesmo está ouvindo sua mãe lhe dizer: “fazei tudo como Ele lhes ordenar” (João 2,5)!

Maria-José-Jesus e o jumentinhoAlém do mais e além de tudo, existem muitos motivos para Jesus jamais negar atender um pedido de sua mãe terrena(*). Isso todo católico sabe. Mas o que os outros cristãos esquecem (mas esquecem apenas por distração, pois o fato todo cristão conhece bem) é que um dos motivos para Jesus ter uma atenção especial para com os pedidos de sua mãe é o fato de que, além dEle ser o Salvador dela, ela também foi – e ainda hoje é, no tempo multidimensional da Glória – A SALVADORA DELE, e até arriscou a sua vida para salvá-LO, no episódio conhecido como “o genocídio dos bebês mártires”. E foi assim: quando Herodes viu que os magos do Oriente fugiram dele sem lhe dar a informação de onde estava o Messias-menino, baixou uma ordem infernal para o assassinato de todos os bebês masculinos de até 2 anos que viviam na região da infância de Jesus; e então Maria, auxiliada por José, escondeu o Menino e fugiu às escondidas para longe dali, salvando seu sagrado Filho das mãos dos assassinos de Herodes! Portanto e com efeito, além de salvá-LO, desobedeceu o rei e poderia ter pago sua desobediência com a sua própria vida, como também com a de José!

Maria, bebê-Jesus e o Esp SantoEnfim, em termos bem resumidos, é este o quadro recapitulatório que se descortina no além-mundo da Escatologia cristã. Toda a vida chamada eterna ou multidimensional da existência post mortem se alinha à historicidade desses acontecimentos vividos por Jesus e Maria, e, dada a presencialidade eterna do Reino de Deus, é assim também a fisiologia da hierarquia celestial, coisa que CS Lewis e a Teologia cristã não nos permitem negar! Pior, também não se pode negar que ela guarda uma incômoda semelhança com a “política mundana”, onde o pistolão e o nepotismo campeiam soltos. Logo, como resolver tão terrível impasse? Graças a Deus há uma pedra de toque aqui, como diria Lewis, e Deus nos permitiu ver uma luz no fim deste túnel.

Ora; a política terrestre fere o decoro parlamentar e a decência celestial justamente porque não há um Legislador Santo, nem um Executivo Santo, nem um Juiz Santo no comando da nação! Como a Teologia diz, é o Espírito Santo que santifica todas as coisas, e a ausência dEle é que constitui sujeira e imoralidade, nos atos praticados e nos sentimentos, mas não na fisiologia! O Sistema está correto, mas não os seus agentes!

Santíssima Trindade-03Portanto, sendo o Legislador, o Executor e o Juiz Santo e Perfeito, não há nepotismo algum, pois o atendimento a um pedido é realizado com base no mérito pessoal e principalmente com base nos méritos de Jesus! E ninguém mais no universo possui maiores méritos junto a Jesus que sua própria “mãe atemporal”, e Ele, sendo Juiz Perfeito, a atende atemporalmente (o que significa de imediato), da forma como “tentou explicar” com a Parábola do Juiz Iníquo (Lucas 18,1-8). Eis aí o final do raciocínio. Alguma dúvida?

Todavia e contudo, para não parecer mera incursão antidiplomática ou mera fuga da obrigação de esmiuçar incansavelmente a Bíblia Sagrada, peço aos meus leitores que assistam os seguintes vídeos para consolidar as ideias aqui apresentadas, da seguinte forma: Vídeo 1 (Clique AQUI); Vídeo 2 (Clique NESTE link). Após assistir tais vídeos, dar-me-ei por satisfeito no meu dever de comunicar a fé com transparência.

Finalmente, também peço aos leitores para reler tudo sem pré-conceito religioso, pois é ele o responsável pelas intermináveis rixas entre cristãos, e não questões de doutrina, que quase sempre levam a culpa de nossas ofensas e “odium theologicum”. As feridas profundas e até dilacerações visíveis no corpo de Cristo jamais serão desculpadas pelas “complicações” doutrinárias da Verdade, mas sim pelas rebeldias e iras diabólicas que nutrimos no coração (Jr 17,9 e Mt 15,19-20), quase sempre  alimentadas por falsos pastores e líderes nefastos, únicos a quem Jesus “ofendeu” (Mateus 23,1-36).

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(*) Legenda do asterisco: Um aluno meu me enviou uma resposta “pobre” sobre a impossibilidade de Maria atender a um pedido de oração, simplesmente porque Maria não tem poder algum para atender ninguém. Ele disse: “Desculpa, mas não devemos pedir nada a Maria, ela foi uma pessoa abençoada e só isso só Deus e Jesus tem esse poder”…Eu lhe respondi assim: “NÃO SE TRATA de Maria ter poder, amigo. Claro que não! Todo poder é do Senhor”. Todavia, querido, este Senhor Deus é também Amor Infinito, e sendo amor infinito, Ele ama infinitamente à sua santa mãe, aquela que lhe deu de mamar e lhe salvou da morte no decreto de Herodes contra os meninos menores de 2 anos! Logo, ora, imagine se você fosse Deus e tivesse o coração infinito, e ouvisse sua própria mãe lhe pedir uma coisa… Uma mínima coisa… Ora, será que você iria olhar para ela e dizer: “Mamãe, não posso atender a você porque só atendo pedidos feitos diretamente a mim!”… Pode? Será que isso aconteceria com o imenso coração de Jesus? [Lembre que foi Ele mesmo quem disse “tudo quanto pedirdes, recebereis” (Mt 21,22); e também “a quem te pedir a túnica, dá-lhe também a capa; dá a quem te pede” (Mt 5,40-42): ora se Ele veio para nos dar exemplo (João 13:15), e Ele nos pediu para DARMOS tudo a quem quer que nos pedisse algo, então como Ele iria macular seu próprio exemplo negando um pedido de sua mãe???]… Pense nisso, amigo. Que Deus lhe ilumine.

 

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