A melhor defesa do Purgatório em CS Lewis

Num trecho comovente e até desesperador, Lewis deixa uma prova do Purgatório toda especial para calar os oponentes desta crença tão salutar ao Cristianismo como um todo.

Com pecado ninguém verá DeusFoi no livro “ORAÇÃO – CARTAS A MALCOLM”, Editora VIDA, 2009, na Carta XX, às páginas 138-139, nos parágrafos 9, 10 e 11, onde nosso gênio escreveu, não exatamente com essas seguintes palavras (que são nossas): “Quando eu chegar na antessala no Paraíso, ou no chamado ‘Seio de Abraão’ [esta escola o chama de ‘Colo de MacDonald’], eu enfim verei que ainda não estou 100% puro, e ficarei em choque. Então um anjo de luz virá e me perguntará se eu já posso entrar, acreditando que já estou puro. Então eu olharei para aquele ambiente de alvura total e inocência virginal, olharei depois para dentro do meu coração e verei que ainda não sou digno de um lugar daqueles. O anjo pergunta então: ‘você já pode ficar?’. E eu o responderei: ‘Ainda não, Senhor, pois ainda não estou limpo’. O anjo replica: ‘Mas a limpeza vai doer muito!’. Eu respondo: ‘Mesmo assim, Senhor, quero a purificação’. E então, minutos depois, lá estou eu voltando ao Vale da Sombra da Morte para tentar mais uma lavagem interior, agora com tremenda dor. Todavia esta será também meu extremo prazer, pois minha decisão mais forte é não querer entrar naquele ambiente de alvura e não estar puro como eles, ou pior, levar para a casa dos inocentes qualquer mínima contaminação”. Eis aí o trecho de Lewis, contado com nossas palavras. Porém, para calar opositores, responderemos: “Como foram as palavras de Lewis?”. Foram as seguintes, em três contundentes parágrafos (abro aspas):

A visão correta se volta esplendorosamente para The Dream of Gerontius [O sonho de Gerontio], de Newman. Ali, se me lembro bem, a alma salva, ao pé do trono, suplica para ser levada embora e purificada. Não consegue suportar nem mais um instante “as trevas que afrontam aquela luz”. A religião {verdadeira} tem reclamado o Purgatório.

Nossa alma exige o Purgatório, não? Seria de cortar o coração se Deus nos dissesse: “É verdade, meu filho, que você está com o hálito forte e que de seus trapos pingam lama e lodo, mas somos caridosos aqui, e ninguém o repreenderá por essas coisas, nem se apartará de você. Entre no gozo do teu Senhor”, não acha? Nós não deveríamos retrucar: “Com submissão, Senhor, e se não houver nenhuma objeção, eu preferiria ser purificado primeiro”. “Pode machucar, você sabe…”; “Mesmo assim, Senhor”.

Suponho que seja normal o processo de purificação envolver sofrimento. Em parte por tradição; em parte porque a maioria do bem real que me tem sido feito nesta vida o tem envolvido. Mas não entendo que o sofrimento seja o propósito da purgação. Posso bem crer que pessoas nem muito piores nem muito melhores do que eu sofrerão menos ou mais do que eu. “Sem disparates envolvendo mérito”. O tratamento dado será o necessário, quer ele machuque muito, quer pouco.

O Purgatorio-1Fecho aspas aqui, pedindo ao leitor que leia toda a “Carta XX”, fornecida por esta Escola na aba “Carta de Lewis” (Sobre o Purgatório). Atente o leitor que o principal argumento aqui está no sentido da frase “eu preferiria ser purificado primeiro”/“Pode machucar, você sabe…”/“Mesmo assim, Senhor”, que obriga à reflexão de que o próprio pecador, chegado ao ‘Seio de Abraão’ ou “Colo de MacDonald”, olhará para si mesmo e pedirá para voltar ao Hades e terminar ali o seu longo processo de purificação, por conta de enxergar no Céu tanta pureza, paz e inocência e não desejar ser o hospedeiro dos vícios-vermes que poderiam contaminar todo o ambiente celestial. É como se um tarado sexual, tendo alcançado consciência de culpa das pedofilias que a lei lhe acusa, olhasse para criancinhas num orfanato e dissesse: “não posso ficar neste lugar, pois não o mereço e preciso de uma psicoterapia mais forte para poder um dia merece-lo”. Nesta ocasião, Deus então diz: “mas o tratamento vai doer”. O tarado diz: “não faz mal, Senhor, pois quero limpar meu terrível vício”. Eis o argumento (o leitor pode ver este argumento na letra da linda música de Carlinhos Brown chamada “Maria de Verdade” e interpretada por Marisa Monte: ouça-a NESTE link e atente particularmente para as frases: “Tou vitimado no profundo poço/na poça do mundo/do céu amor vai chover/Tua pessoa Maria/Mesmo que doa Maria/Tua pessoa Maria”: estavam certos os profetas que diziam que Deus “fala” pela arte, pela poesia e pela música, e a Bíblia quando dizia que Deus fala até pelas pedras que não nos deixarão calar).

Assim, após esta bofetada nos descrentes, podemos agora entender a importância da existência do Purgatório, como parte integrante do processo divino de formar um lugar (“vou preparar-vos lugar”) onde o pecado não penetra. Além do mais e positivamente, crer num lugar onde as últimas culpas serão purificadas combate diretamente a nefasta teoria da reencarnação, como o leitor pode ver no vídeo sugerido NESTE link. Finalmente, para complementar tal conhecimento, pedimos encarecidamente ao leitor que leia a explicação do professor Felipe Aquino (NESTE link) e depois de tudo, por favor comente o que está pensando conosco. Vamos lhe ajudar.

Ora, se um homem do naipe de um CS Lewis reconhece que não chegaria 100% puro ao Paraíso, e que por isso ele escolheria, com a maior boa vontade e honra (o que deveria ser o caso de todos nós!), voltar ao Hades e experimentar a última lavagem interior, a mais dolorosa de todas, então por que cargas d’água nós “crentes fracotes”, muitas vezes maus crentes, iremos querer subir direto ao Céu, sem se importar com os riscos de contaminação da Casa de Deus? Eis que esta palavra de Lewis é contundente e pungente, justamente por nos fazer olhar para dentro de si e perguntar: “estou 100% puro para entrar na Casa de Deus? Estou 100% puro para comungar? Estou de acordo com o Salmo 15?”, enfim, é a palavra final trazida pelo mais ilustre dos profetas modernos do Cristianismo. Uma pérola para o deleite dos filhos de Deus que ainda guardam a honra e a humildade.

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