Enya – A rainha de todos os castelos

Um estranho fenômeno musical mundial nasceu no Século XX e é certo que tocará para sempre nos aparelhos e ouvidos do mundo, como única melodia unânime nos quatro continentes.

Uma menina linda e cheia de talento nasceu e foi criada na localidade de Gaoth Dobhair, condado de Donegal (Dhún na nGall, em irlandês), situada no noroeste da Irlanda – um local cuja língua oficial é o irlandês mais arcaico – e estava previamente convocada por Deus para oferecer ao mundo os sonhos e as lembranças mais vívidas dos primórdios da Idade Média e eras anteriores, das quais a sonoridade herdou e ultrapassou a barreira do tempo, alojando-se definitivamente no inconsciente coletivo. Refiro-me a “Eithne Pádraigín Ní Bhraonáin” (Enya Patricia Brennan), conhecida mundialmente apenas como “ENYA” (foto 1), com sua alma cantarolante, cheia da musicalidade instigante da chamada “Era da Inocência”, a qual tão bem retratou Ridley Scott em seu extraordinário “A Lenda” (link).

Sua infância foi passada nas terras frias e sombrias do interior da Irlanda, numa região onde se fala o irlandês, e não o inglês, e onde a cultura céltica é a cultura-mãe para a inspiração de todas as manifestações artísticas e religiosas de sua gente. Exatamente por isso e com efeito, foi musicalmente influenciada pelo ambiente celta e pela família de músicos, igualmente inspirados pela história épica de seus ancestrais, na qual preponderava o cantochão e a música sacra (tais gêneros percorrem as veias de todas as suas composições e interpretações, inquietando o ouvinte com sua estranheza e encantando com sua beleza todas as consciências que, num dia qualquer, têm a sorte de travar contato com sua melodia paradisíaca).

Há quem diga que estão providenciando uma biografia “doméstica” da artista, na qual estariam presentes até anotações de diários particulares da menina Enya, a qual contaria momentos de sua infância e adolescência nas terras enevoadas em que foi criada, das quais extraiu praticamente tudo o que veio a compor, cantar e musicar em sua vida, a partir de uma certa altura de sua juventude [neste mister, dizem que, para quem leu ou gosta de ler os autores que escrevem sobre as Histórias do Reino Unido (UK), os registros da biografia familiar de Enya guardam com aquelas tão íntimas relações que não daria para saber quem inspirou quem].

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Em 1980, a família de Enya formou a banda Clannad (que significa família, em gaélico), na qual a cantora entrou poucos anos após a sua “estréia comercial”. A banda era formada por irmãos e tios dela, utilizando repertório composto até pelos pais de Enya. Quando entrou no Grupo, Enya tocava teclado e fazia parte dos vocais femininos. Até o terceiro ou quarto discos da banda, o Clannad viajava por um som progressivo, com acordes cambiantes entre o ‘world’, o sinfônico e o lírico modernos, mostrando sem dúvida influências do “rock mais pensado” de bandas como o Pink Floyd e o Yes. Entretanto, quando o “Clannad” começou a tomar um rumo mais “pop“, ganhando notoriedade e aparecendo em programas de TV, Enya resolveu assumir sua “timidez investigativa” e deixou o grupo, iniciando carreira solo com sua melodia lírica e sacra, as quais, dizem, eram o que de fato cativava seu sangue céltico mais enraizado. (O StudioJVS fez uma peça de ficção com o LP “Macalla” do Grupo Clannad, acerca de uma possível viagem de Enya à Escócia e um místico encontro dela com Nessie). A música original está NESTE link.

Neste seu indômito espírito telúrico de origem céltica, Enya foi desfilando uma produção cada vez mais elaborada de melodias que parecem sair de uma “caixinha de músicas de ninar filhos de fadas”, e talvez só quem sonhou, leu ou viveu alguma coisa parecida deveria gostar tanto dela. Entretanto, tal não acontece desde que sua voz foi ouvida fora do UK. Numa profusão cada vez mais avassaladora, a sua legião mundial de fãs cresce como uma prole de coelhos, sendo hoje em dia difícil encontrar alguém, de qualquer raça, idade, experiência e crença, em qualquer lugar do Planeta, que não goste (na verdade ame) o som por ela produzido. Quem não gosta de Enya? É a pergunta que toda a crítica faz e não encontra qualquer resposta estatística neste sentido.

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Porém não deve ser o simples gosto ou paixão despertada em seus fãs que configurará uma análise mais profunda do fenômeno mundial representado por Enya e seus músicos. O que se deve avaliar é o grau de penetração de sua melodia no coração e no subconsciente das pessoas, como se todas as almas estivessem unidas por um fio condutor que as arrasta para o belo e o lírico desde a antiguidade, como que a indicar uma origem comum com o sangue bretão espalhada nos 4 continentes, talvez desde o êxodo africano dos nossos ancestrais primatas.

Ouvir Enya então seria uma incursão mais profunda no mistério que remonta o passado mais belo e arrebatador da experiência espiritual da humanidade, o que pode explicar porque muita gente crê numa jornada longa entre a concepção da mente divina e a da fecundação do útero feminino, entre as quais se encontrariam os sinais de pré-existências diversas entre os celtas, no meio dos fluidos, éteres, líquidos e elementos subatômicos formadores das matérias necessárias à ontologia humana (o leitor aqui não deve confundir essas coisas com a heresia da reencarnação).

Todavia, o que mais chama a atenção em ENYA é a constante e profunda melodia subliminar que se aninha na mente dos seus ouvintes, como uma mensagem celestial estética e misteriosa, mas estranhamente familiar, que faz qualquer um mergulhar numa realidade onírica ou fantástica, como aquelas de filmes sobre a Idade Média, ou de contos de fada e bosques sombrios. É uma estranha chamada que remonta o ambiente narniano no seu mais puro esplendor, como se houvesse perfeita sincronicidade e reciprocidade entre a fonte que a inspirou e a que inspirou CS Lewis. (Por falar neste, há outros pontos de coincidência mistagógica entre ela e Lewis, afora a questão de ambos serem irlandeses. É o fato dos dois amarem gatos e castelos, e terem nos bichanos grande parte de sua felicidade na convivência com outros seres criados, ao mesmo tempo em que sentem, ao visitarem castelos, toda a vibração produzida por uma estranha chamada missionária, que os projeta ao patamar dos grandes profetas de Deus). A paixão de Enya por castelos a levou, inclusive, a comprar um, chamado Castelo Ayesha (foto abaixo) que em árabe significa flor, sendo ela, Enya, a flor mais bela da Irlanda.

As músicas de Enya são tão lindas que, para analisá-las coerentemente, nos deparamos com um problema insolúvel, a saber: como escolher alguma delas para comentar? Qual delas merece mais destaque? Qual delas possuiria alguma inconsistência visível?… Ora, tal condição do repertório de Enya nos obriga a dizer o seguinte: todos os discos dela são excelentes, mas os 3 primeiros após a estréia solo (“Watermark”, “Shepherd Moons” e “The celts”, estes 3 após o CD “Enya”, de 1987) são simplesmente perfeitos! Irrepreensíveis. Ousamos mesmo dizer que se alguém encontrar ali algum defeito, queira por favor escrever-nos para investigarmos a razão de tal falha, porque esta certamente não passa de ilusão de ótica, ou melhor, de ilusão de áudio. Ora; citando apenas os nomes das faixas, vamos fazer de conta que os seguintes hits não são dela, e sim de anjos que, por terem suas canções proibidas na Terra, acabaram cedendo os direitos de uso pela Enya, visando diminuir a quantidade de porcarias musicais que a modernidade nos obrigou a ouvir. Então vejamos:

CD Watermark (faixas “Cursum Perficio”; “Exile”, “River” e “No laetha geal m’óige”); CD Shepherd Moons (faixas “Caribean Blue”, “Ebudae”, “Angeles”, “Lothlórien”, “Smaointe”); e CD The Celts (sem dúvida o mais lindo de todos, faixas “The Celts”, “Aldebaran”, “I want tomorrow”, “March of the celts”, “The sun in the stream”, “To go beyond”, “Boadicea” e “Bard Dance”); que são absolutamente perfeitas, não podem ter simplesmente ‘aparecido’ na cabeça de Enya ou de seus irmãos e amigos compositores, simplesmente porque não há mais no mundo condição espiritual e transcendental capaz de barrar a vozearia atordoante dos demônios e muito menos a ditadura da depressão que os inimigos de Deus espalharam, visando alienação e angústia vampirizáveis nos estertores do tempo infernal. Se não houver exceção cabível aos cristãos nesta regra, então podemos ter certeza de que em breve o planeta inteiro relinchará feito um pangaré desafinado e louco, que tentará a duras penas pedir socorro com um tumor nas suas cordas vocais eqüinas, imitando a bulha do inferno. Por tudo isso, podemos dizer, como o hino da Inglaterra diz da Rainha: “Deus salve a Enya! Deus salve a Rainha de todos os castelos!”…

Residência particular de Enya, lugar ideal para viver o fim do mundo.

Outra condição onde as músicas de Enya contemplam os critérios da excelência de que fala a Administração, é o fato de haver no mundo poucos artistas e bandas que resolveram cantar/tocar o repertório dela, e os que o fizeram de fato reconhecem a extrema dificuldade em igualizar com ela, sendo impossível superá-la! Porquanto a orquestração de Enya é impecável, não apenas pela exatidão da execução, mas pelo uso de instrumentos musicais extraídos ‘do Além’ ou da “Máquina do Tempo” (com a qual a atmosfera romântica do mundo antigo se formou), sendo de fato possível ouvir sons no meio das faixas que nos levam a perguntar “que instrumento é este?”, ou “isto é voz ou órgão?”, ou “como ela conseguiu encontrar uma ‘cítara’ medieval, um ‘címbalo beneditino’ ou uma ‘harpa judaica’ das mais reverberantes?”. A performance da cantora e seus auxiliares de backing vocals e corais nos levam a imaginar que ela estaria acompanhada por anjos ou no mínimo por cantores gregorianos ressuscitados para uma apoteose parusial, formando o conjunto de uma obra que levanta todas as perguntas e nos obriga a todas as respostas de fé, fé em coisas que transcendem tudo o que vivenciamos no cotidiano.

Afora as músicas e a poesia, muitos outros dados curiosos se sobressaem da biografia de Enya, dentre eles a aceitação mundial que lhe rendeu até um nome de caractere para léxico e para programa de computador, como o leitor poderá ver na frase seguinte, escrita com o alfabeto eletrônico chamado Enya (Vide alfabeto “ENYA” ao final); e já que falamos no planeta Terra, seu nome também batizou o asteróide 6433 como a nomenclatura científica do bólide, em 20 de junho de 1997. Ainda na área da Astronomia, a cantora foi apelidada de “The Invisible Star”, não por ser ela uma ‘estrela invisível’, no mal sentido, mas por ser tão grande que por trás dela se esconde uma colossal estrela, tal como Ramandu escondia, em mais outra ligação ‘telepática’ dela com CS Lewis. De fato, tudo parece indicar que Enya tem nas veias “sangue de fada”, como diria Lewis, por sua afinidade com o insólito. E este autor escreveu um dos livros “infantis” de sua série ‘As Crônicas de Nárnia’ com o título de “A Cadeira de Prata”, onde a bruxa do primeiro episódio reaparece como “Serpente Verde”… Mas à verdadeira “Silver Lady” (Dama de Prata) foi dado chamar-se Enya, um dos codinomes da irlandesa-gênio. Assim o leitor pode ver o quão profundos são os mistérios subjacentes àquela genial menina “donegalense” que a História do Planeta Terra jamais apagará, deixando-a na galeria dos grandes astros da música, como os Beatles, os Rolling Stones, Sir. Elton John, Pink Floyd e tantos outros nomes emblemáticos da musicografia mundial.

Enya é uma artista reconhecida mundialmente, também pelos prêmios que já recebeu. Ela já faturou o Grammy, o Echo, Discos de Ouro no mundo todo e já foi cotada até para um Oscar, por uma música sua incluída na trilha sonora de um filme, o romance Sweet November (“Doce Novembro”), onde atuaram atores como Charlize Theron e Keanu Reeves. A canção que conseguiu esta proeza foi uma das mais lindas de seu repertório, a saber, o clássico “Only Time”. Arrisco-me a dizer que nenhuma outra cantora se compara a Enya, exceto Sarah Brightman e Kate Bush, ambas genuínas divas da canção, como verdadeiras deusas da melodia telúrica, e todas filhas do Reino Unido, o que eleva este território ao patamar do mais melodioso de todos os mundos.

Mesmo o ouvinte menos culto de Enya poderá, sem dúvida, perceber que ela nem sempre canta em inglês, e que, pelo contrário, a língua por ela usada perde-se nas mil e uma noites de sua terra natal e genealogia, constituindo um idioma difícil e ultrassonoro, beirando por vezes o latim, tangenciando por vezes o aramaico, lembrando por vezes o esperanto praticado por quem tentava, há milênios, uma forma de diminuir o abismo deixado na Humanidade pela presunção da Torre de Babel (aliás, por falar naquela maldita Torre, Enya é conhecida por ter sido a única cantora a cantar em 10 idiomas diferentes até agora, como que mostrando uma aura espiritual para debelar desentendimentos entre os povos amaldiçoados pela Torre). Mas nada disso esmaece a beleza contagiante de sua melodia onírica, que só um mineral poderia desprezar. Aliás, sua doce voz é tão perfeita – para aquele tipo de música – que ela nem precisava ter escrito letra alguma, pronunciando seus sons ao mesmo tempo ininteligíveis e arrebatadores. Porém os entendidos do gaélico, do latim e do aramaico, ao traduzir Enya, também se surpreenderam com o encanto de suas poesias, intérpretes de uma Era de Paz perdida entre Adão e Platão.

Como disse antes, não me lembro e não creio ter encontrado no mundo uma só alma que não gostasse da melodia de Enya, mesmo entre aquelas mais alienadas e de mau gosto. Isto também perfaz o fenômeno Enya, que além de sinalizar o mais profundo mistério, constitui-se num “milagre de unanimidade” que do Céu vem encantar os corações atordoados do Século XX e seguintes, numa antologia musical que nenhum historiador do futuro omitirá em suas publicações.

Porém vamos imaginar que haja alguém, neste mundo louco, que não aprecie a obra de Enya. Tudo bem. É possível. Tudo é possível. Mas seja lá o que essa pessoa disser, e por mais pessimista e descrente que alguém possa ser, para nós que cremos será sempre um consolo saber que a música de Enya é aquela que ouviremos lá do outro lado, quando cruzarmos o grande Rio da Vida e subirmos ao Paraíso. E quando a escutarmos, veremos que é dali que sua melodia veio, e é ali que merece estar.

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