A incrível precisão das descrições antigas

Com o duplo sentido proposital para “precisão”, a Antiguidade deixou um legado extraordinário para as pesquisas do homem moderno acerca de sua própria falibilidade e das realidades espirituais.

Temos observado com freqüência uma gama de descrições antigas da vida humana que parecem irreais aos olhos da pós-modernidade, sobretudo quando tais relatos exibem uma sociedade menos violenta, mais cordata, mais sincera, e onde a justiça se faz com mais pureza de propósitos, demonstrando estar calcada sobre firmes alicerces morais, herdados e aceitos por toda a população. E isso não é de admirar, pois o respeito à Moralidade vigorou até meados do Século passado, quando a Televisão chegou e desintegrou todo o concreto que sustentava o edifício social – e isto de modo irreversível, já que a inocência, uma vez perdida, torna-se irrecuperável como a confiança, que exige integridade total durante todo o tempo.

As glórias e vantagens da Antiguidade (como da Idade Média) abrangem um largo espectro de facetas da vida humana, que poderiam ser resumidas em pontos como o romantismo, o cavalheirismo, o respeito à Mulher e aos mais velhos, a valorização do Magistério, a confiança na Medicina, a honradez de juizes e magistrados, a obediência prazerosa dos filhos aos pais (legítimos ou adotivos) e dos cidadãos às autoridades (eleitas ou herdadas), a confiabilidade das relações patronais, a boa vontade de chefes e trabalhadores, etc. Isto tudo sem falar das artes e da cultura em geral, que eram verdadeiras pérolas de beleza e pureza, retratando cenas pastoris de situações corriqueiras no meio rural, as quais chegavam até às vilas aconchegantes de pequenos aglomerados humanos, que nunca eram sufocantes e impessoais. Enfim, pode-se dizer com segurança que a Antiguidade (aqui conceituada como sendo do Século XIX para trás) guarda seus insuperáveis trunfos de felicidade social, com sobejas vantagens sobre a vida moderna, a exceção dos avanços tecnológicos. Este é o ponto de partida deste arrazoado.

Com efeito, o que nos chama a atenção para escrever sobre o assunto, é quando os povos antigos vêm descrever o que eles vivenciaram, extraindo dali todo o legado de aconselhamento e orientação de conduta, oferecendo a nós uma filosofia de vida sólida e segura, que pode garantir a manutenção da sociedade até seus derradeiros dias, ou até que uma hecatombe cósmica (como a queda de um grande asteróide) extinga a vida na biosfera. É uma proposição segura porque, controlando bem a geração do mal e a impunidade subsequente, mantém a normalidade intocável em suas ruas, casas e trabalho, e os marginais – quando realmente marginais – presos em situação de espera do cumprimento de sua sentença ou da pena máxima, tudo dentro da Lei.

Neste mister, toda a vida cotidiana é passada em revista pelos conceitos firmados pela longa experiência social dos povos antigos, e um bom exemplo desta realidade diz respeito à forma como a Antiguidade via a sexualidade humana; ponto onde as diferenças com nosso tempo se tornam gritantes e, porque não dizer, vergonhosas. Por exemplo, podemos ver a forma como a Antiguidade encarava as duas classes de mulheres (ali resumidas a apenas duas), as decentes e as promíscuas, batizadas com os nomes de “damas” e “meretrizes”, cada uma ocupando seu papel social bem definido e bem aceito, desde quando uma não invadia o campo da outra e vice-versa (aliás, quando uma meretriz vinha para o “meio social decente”, debaixo de muito sofrimento e rejeição preconceituosa, demorava muito até conseguir respeito, e isso apenas quando comprovava uma mudança drástica de vida, quase sempre testemunhada por padres e autoridades em geral – a autoridade religiosa era a maior –, ganhando enfim certo status de “forasteira”, só superado quando se casava bem ou quando seu marido era um figurão rico e respeitado por todos).

Os povos antigos então, por força da Moral forte e honesta, tinham suas categorias de classes sociais bem demarcadas em seu meio, cujos limites configuravam-se drásticos nos lugares públicos, sem que ninguém sentisse náusea por qualquer “exclusão”, preconceito, rotulagem injusta, ou coisa que o valha. Ali era consenso, por exemplo, que as meretrizes – ou “mulheres profanas” – gozavam de certa liberdade para fazer shows seminuas ou desnudas, desde que escondidas em quatro paredes de bordéis (muitos deles “chiques” – os pobres eram tão ‘recolhidos’ à sua insignificância social que não faziam diferença na sociedade) e só visitadas por figurões ricos e/ou políticos, os quais nem se contaminavam moralmente com elas nem eram acusados de traição; porquanto ir a um ‘cabaré’, na época, era uma prática oficial e até legal, aceita inclusive pelas esposas, que muitas vezes eram levadas também a assistir aos shows. Ali as “damas” viam belos espetáculos dramatizados, onde as personagens podiam ser “esquecidas como meretrizes”, ganhando temporariamente o status de “profissionais da arte”.

Dessa prática comum foi que surgiu e se consolidou a noção de que SOMENTE mulheres profanas (ou “livres”) ousavam se tornar “artistas”, principalmente quando se tratava de artes cênicas ou teatrais, tornando o termo “artista” um sinônimo de “profano”, ‘mundano’ ou “imundo”. Daí que associar a profissão das “meretrizes” (a palavra meretriz é uma forma sincopada da expressão “mera atriz”) à arte das atrizes foi um curto passo, e ninguém existia que rejeitasse essa idéia, encontrando até atrizes que registraram em livros a alcunha com a qual se viam. Isto fecha a questão em relação à ótica do Bem na Antiguidade. Agora vamos à ótica do Mal.

Mesmo que o Homem moderno queira entender que a concepção antiga do Bem carece de elementos realistas em comparação com a compreensão que a humanidade alcançou com a chegada da Era Tecnológica; ou que as descrições antigas do que seja o Bem sejam consideradas uma aberração pelo “grau de liberdade” que a sociedade alcançou, o mesmo não se pode dizer das descrições do Mal; pelo contrário, que a Pós-modernidade vai ao passado buscar os detalhamentos mais ilustrativos da ciência da maldade, pela experiência mais incisiva sobre a manipulação do Mal praticado antes que a consciência tivesse sido despertada pelas injustiças sociais.

Noutras palavras, a liberdade até então oculta da sociedade permitiu aos manipuladores do Mal descer aos porões onde a maldade era gerada, fazendo pacto com sua geratriz em troca de poderes que só beneficiavam os maus, conquanto fizesse lucrar a quem os concedia aos “seus agentes”. Neste sentido, nunca jamais a Humanidade foi tão má quanto na Antiguidade, embora tal parâmetro só se possa afirmar em comparação com maldades localizadas, e em relação aos malefícios produzidos pelas Artes da Maldade, que só os “pactuados-das-trevas” operavam [os pactuados-das-trevas atuais ainda não nasceram ou estão tão ocultos pelo seu pouco espaço popular que aguardam o dia em que Logres & Avalon retornem para nunca mais sumir!]. De fato, a maior maldade de hoje se deve ao seu caráter globalizado, manifestado em explosões de violência em praça pública, “guerras-fratricidas-não-declaradas”, atos terroristas, desastres nucleares e outros perigos, que surgem como pandemias nos 4 cantos do globo, e sem que nenhuma justiça finalmente se cumpra ali.

Todavia há um detalhe das descrições antigas da maldade que não apenas registra com precisão o teor do Mal, como empresta a ele uma atmosfera jamais repetida pelo homem moderno, exceto no quesito das perversões sexuais, as quais tudo indica que sejam o estopim das maldades trevosas que estão para surgir no decorrer do 3o Milênio. Refiro-me aos sinais da geratriz do Mal que transparecem nas fisionomias dos homens maus, cujos sintomas geralmente só são percebidos por quem está 100% fora das intenções deles, ou por quem já conhece a Maldade Antiga, aquela dos pactuados-das-trevas.

Vou tentar agora descrever o sintoma mais perceptível dessa “Maldade-Pactuada”, o qual faz transparecer esta realidade com uma expressão imperiosa, que transparece sem dó nem disfarce nos olhos e fisionomias daqueles que aceitaram o pacto, em nome de um prazer “celestial” (infernal) ou de poderes globais que possibilitem os mesmos prazeres por outras vias. [Um parêntese: se ao final toda a intenção é angariar o prazer, então é evidente que o verdadeiro Mal se encontra noutra esfera de atuação, numa dimensão onde o prazer é precisamente vampirizar essas almas humanas que busquem desesperadamente o gozo suposto como celestial, as quais usam para isso quaisquer pretextos, ou seja, que os fins justificam os meios].

Assim, quando observamos com atenção, nos quadros e pinturas antigas, as fisionomias dos homens e mulheres em estado de maldade, perversão ou degeneração, fica evidente que aquelas pessoas se entregaram de corpo e alma à geratriz do Mal, e esta pactuação lhes emprestou um rosto sádico, sórdido, lúgubre e libidinoso, com o qual caminham até a culminância de sua maldade, sem que nada lhes impeça de chegar a um homicídio ou suicídio. E é aqui que a descrição antiga mostra seu perfeccionismo inconteste, porquanto o que a pós-modernidade tem exibido, às vezes em horário nobre (ou diante de nós, nas ruas, guetos e praças), são fisionomias dilaceradas pela sordidez, pela lascívia ou pela crueldade, com sinais de “orgulho” pela postura assumida! – Este, enfim, é o grande diferencial da modernidade: os antigos homens maus se entregavam aos pactos na tristeza de um suicídio desesperado, e muitos sofriam por se aplicar tais destinos! Hoje em dia não: a maioria se entrega pelo exibicionismo, e muitos nem se dão conta do que lhes espera na sétima noite ou na sétima década, quando a velhice lhes provar ter sido toda a sua vida um sacrifício inútil em prol do vazio.

Exemplos? Basta dar uma passada no Google e procurar pesquisar frases como: “sites e blogs góticos”, “sites e blogs de mulheres das trevas”, “roqueiros das trevas”, “metaleiros tresloucados”, “blogs de vampiros e vampiras”, “bruxas modernas”, “sites de bruxarias e feitiços”, “tatuadores góticos”, “talhadores da carne”, “tatuados da noite”, “marcados pelas trevas”, “góticos à moda antiga”, etc. E há muito mais coisas, sem muito esforço. Veja, por exemplo, as fotos das capas de CDs de “roqueiros envenenados”, “metaleiros engajados” e outros grupos, como mostram fisionomias de pessoas que já nem parecem humanas, e apenas refletem almas afiveladas em rostos pétreos e sem vida, exibindo dentes enferrujados, piercings, mini-punhais encravados na pele, ganchos e pinos nas orelhas, e tudo como se estivessem se vingando de seus corpos ou oferecendo hospedagem à dor, como companheira inevitável de uma vida sem sentido! [Dadas as dificuldades de se descrever as emoções transmitidas na fisionomia daquelas almas, acredito que minhas palavras não perfazem qualquer exatidão no registro de tais criaturas, ou que pelo menos elas perdem feio para as descrições dos antigos].

É claro que a pesquisa esbarra numa aparência de maldade, e não na essência, uma vez que esta ainda não foi de todo adentrada! A Humanidade, afinal, ainda dá muito valor ao prazer físico para tentar a busca de um gozo superior na maldade pura e simples! E graças a Deus ainda temos algum tempo, enquanto podemos respirar “sem a fumaça das 7 luas”…

Todavia isso não vai demorar muito. Toda a mídia mundial trabalha para permitir a emersão da Geratriz do Mal em carne e osso, e quando ela chegar será mais aplaudida do que uma Cicciolina em sua época de ouro do cinema pornô. E não será necessariamente “uma mulher”, já que terá que servir a dois senhores ou mais, incluindo homens que gostam de homens e mulheres e vice-versa. E também não será libidinosa, somente, pois carrega o desejo oculto de dominar o mundo todo… E isso não leva ao sexo, e sim, à vampirização, prazer que ela jamais mostrará a ninguém para não perder IBOPE.

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