A vida eterna no corpo físico

Eis aí o estopim e a razão precípua dos filmes de drácula e vampiros, que expõem a única maneira de exprimir o inferno que seria conseguir a imortalidade dentro das deficiências e decadências da carne.

Como um ser humano poderia exprimir o inferno verdadeiro, sem jamais ter voltado de lá e sem poder “filmar” da terra o horrendo lugar? Como as circunstâncias de se adquirir uma vida imortal poderiam ser expostas ao grande público sem mostrar o lugar indefinível preparado para o diabo e seus anjos? Eis que então encontramos, para nossa confortadora surpresa, a razão para a chegada ao mundo de contos como Drácula de Bram Stoker e a eclosão de sucessos como a Saga Crepúsculo.

Está tudo claro na intenção do Criador, pois esta seria a única forma de a Humanidade surda ouvi-lo dizer: “Vocês não podem viver além dos limites de sua idade e de seu corpo físico! Vocês não foram feitos para uma vida imortal, mas para a vida eterna (zoe), que só se constitui assim a partir da união intrínseca com a vida de Jesus Cristo, tendo Ele próprio experimentado um corpo físico e a morte respectiva, ressuscitando para mostrar qual vida a carne pode aguardar no Além, única que transcende todas as limitações da Natureza, justamente por ser sobrenatural”.

Porém não é isto que preenche a cabeça daquelas pessoas que, levadas pelo ateísmo ou pela rebeldia de desafiar Deus, desejam ardentemente permanecer vivas na carne, conquanto nesta subsista toda a deficiência e decadência próprias da matéria frágil com que o corpo humano foi concebido (neste sentido, a história registra inúmeras tentativas humanas de tentar manter a vida no corpo físico, incluindo aí a Mumificação, a Criopreservação, a Vivissecção e a Encefalovivificação, magistralmente exposta por CS Lewis no último livro da Trilogia chamado “Aquela Força Medonha”). Urge então esclarecer, antes de qualquer coisa, porque Deus teria criado o corpo humano com matéria tão precária que a duras penas chega aos cem anos, quando outros corpos alcançam milhares, senão milhões de anos, e alguns nem chegam a passamento, nascendo e vivendo para sempre num mesmo corpo (até a Bíblia dá sinais desses corpos perenes, que são citados até entre seres humanos, num mistério pra lá de instigante – veja textos como Mc 9,1; João 21,22-23; Hb 11,4 e 13,2; etc.).

A Bíblia explica que o corpo humano foi mortalmente golpeado por um ato espiritual do primeiro homem, o qual não apenas fez abater todos os poderes que lhe davam vida longa e morte indolor (aqui merecendo o nome “passamento”), mas fez a sua adesão contaminar a todos os seus descendentes que, de modo também espiritual, foram contagiados pela mesma desgraça que levou Adão a agir mal – nesta hora, nem é bom ser otimista, pois o agir mal de Adão nos contagiou a todos justamente por ser tão atraente quanto foi para ele, a saber: gozar uma vida livre e sem qualquer responsabilidade, e sem ter que dar satisfações de seus atos a ninguém (aquele mesmo desejo de todos os adolescentes, com os quais nós adultos compartilhamos e compactuamos). Por isso, pensar que Adão foi um idiota é uma idiotice típica de quem concordará com ele, quando um dia ele explicar o que lhe tentou.

A partir da Queda do Homem, o único caminho seria uma volta acelerada à rota abandonada por Adão, ou seja, um arrependimento genuíno com a humildade de pedir perdão e corrigir-se na alma, se envolvendo no prazer de seguir os passos, as orientações e ordenanças do Criador. Mas mesmo que tal passo tivesse sido dado (algumas pessoas o fizeram), isso de modo algum faria recuperar o poder perdido de preservação corpórea, não apenas porque um pinto não consegue voltar para dentro do ovo quebrado, como porque o corpo de Adão – antes da Queda – também não era imortal, mas apenas longevo, e com trasladação (passamento indolor).

Portanto, qualquer tentativa de prolongar indefinidamente a vida física, pode(ria) e deve(ria) ser encarada como tentação, mesmo para quem não tivesse pecado algum, como era o caso de Adão antes da Queda. E se com ele a malignidade havia se mostrado patente na voz do inimigo, conosco então aquela voz será desastrosa, e aqui chegamos ao Conde Drácula.

O mito que Bram Stoker veio iluminar tem a natureza verdadeira de todos os mitos, a saber, origem num fato real perdido na noite dos tempos, e retransmitido a nós por conta e ordem de Deus, a qual Ele incutiu no subconsciente das massas e sobretudo na voz dos seus profetas e hermeneutas. Isto significa que, apesar de toda a estória de vampiros ter sido usada e explorada pela literatura, pela mídia e pelo cinema (às vezes com requintes de invencionice), a origem da vampirização não se invalida pelas mentiras a ela adicionadas, assim como o estranho acidente de Amelia Earhart não perde seu exotismo com as inúmeras boatarias a ele incorporadas (Amelia Earhart, desnecessário dizer, é apenas um dentre milhares de acidentes estranhos ao longo do tempo, aos quais a língua do povo acrescentou o que bem ou mal entendeu).

O que há na origem da estória de drácula que seja verdadeiro? Este artigo não tratará de explicar o conto de Stoker e todos os outros escritos após ele. Afinal, o que acontece após a entrega de uma alma ao inimigo não importa, i.e, seja lá como tiver ocorrido, o resultado será sempre um desastre tal que a pessoa resultante poderá ser chamada de “vampiro-vivo” (se fizer o mal aos outros) ou “morcego-morto”, se quedar-se inerte em sua desgraça, atolado nas trevas de uma sarjeta abjeta e deplorável (pobres morcegos apedrejados por trombadinhas às vezes de fato dão pena, e terminam despedaçados num lixão qualquer).

Todavia, é o desejo de imortalidade que prepondera em todas as almas que buscam contato com o baixo-além, e aquele sonho não poderá traduzir-se em nenhum benefício plausível, uma vez que não apenas afronta a natureza conspurcada (que agora não tem forças para vencer a entropia dos corpos), mas também a vontade de Deus, em cujo plano está contemplada a Ressurreição, ou melhor, a restauração ou reconstrução do invólucro da alma, sem os perigos e defeitos agregados à carne da raça adâmica.

Noutras palavras, é como se Deus, tendo visto o estrago introduzido nos corpos humanos, e sabendo que uma emenda será sempre pior que o soneto, anexou um corpo 100% novo ao fato escatológico da sobrevivência das almas, cuja “limpeza” só ficaria completa com um invólucro 100% “virgem” ou esterilizado, sem qualquer contaminação ou “tendência”. Qualquer tentativa de burlar isso ou de assumir sozinho essa limpeza, teria a conseqüência indescritível da autodegeneração, culminando com a ocorrência de uma teratogenia inimaginável.

E muitos filmes de vampiros mostram justamente isto. Um filme da década de 80, dirigido por Tom Holland e estrelado por Roddy MacDovall e Chris Sarandon, chamado “A Hora do Espanto”, conta a história de um belo vampiro morando ao lado de um jovem inteligente e muito desconfiado. O tal vampiro consegue passar-se por homem durante muito tempo, até que aquele jovem decide provar sua desconfiança, caindo nas vinganças do drácula charmoso. E pior, este cara consegue ludibriar até um famoso caçador de vampiros do lugar, “cativando” a namorada do jovem e ainda “invadindo” a alma de um outro jovem, amigo de turma do primeiro: foi aqui que o diretor conseguiu expor toda a teratogenia ocorrida ao pobre rapaz de riso frouxo. Ele se transforma numa criatura infernal, misto de vampiro e lobo, morrendo enfim com uma estaca no peito.

O inferno é precisamente isso: uma alma que, carente do amor de Deus, perdeu a noção do que de fato lhe faria feliz, e decide, entre o ódio e a loucura, procurar o poder da imortalidade para seu corpo (seus 5 sentidos), quando sua alma já é eterna e eternamente propensa a rejeitar Deus, desde a herança maldita de Adão. Ao expressar sua vontade negativa, chama o grande vampiro e pede para ser feliz SEM MORRER, ganhando deste apenas um morrer infeliz. Infeliz, imundo, horrendo, odioso, deprimido, orgulhoso, monstro.

Finalmente, a Bíblia diz que se os cristãos do mundo jamais explicassem essas coisas, ou então se se calassem, até as pedras clamariam às almas perdidas, tontas entre sua depressão e sua solidão, e lhes indicariam o caminho de volta à sensatez, o arrependimento, o perdão e a paz, que podem até chegar por enquanto num corpo frágil, mas com potencial suficiente para salvar sua alma e fazê-la emergir num corpo glorioso. Mas se ela de fato não quiser isso, ou se quiser uma vida ditada apenas por ela mesma, nada haverá que a impeça de se vampirizar ou de ser vampirizada.

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