Alimentação sadia independe de seus alimentos

Uma velha proposta medicinal dos evangelhos contém o conselho mais seguro para uma vida saudável, em cuja dieta não há restrição alguma e está ao alcance de todas as classes sociais.

A resposta de Jesus para qualquer pessoa que curasse era sempre “a tua fé te salvou”. Ele nunca disse “eu te curei”. Assim, aqui reside um segredo crucial para a vida humana sadia neste planeta. Vamos analisar tudo o que se refere àquilo que poderíamos chamar de “A Fórmula Medicinal de Jesus”. Observe o leitor qual o valor relativo dos alimentos proposto por Jesus, e como a ausência de preocupação era a pedra-de-toque para a saúde do corpo, com o qual o Nazareno mui pouco se importava* (João 6,63 – depois Lc 12,22 e 29-31, tudo na Bíblia CNBB 2008). Note também que a ausência de preocupação era o grande desejo de Paulo (I Co 7,32a).

Por exemplo. Ao dizer “não é o que entra pela boca que contamina o homem” (Mt 15,11), Jesus estava, na medida das possibilidades de um texto tão curto sobre uma matéria de tão pouca importância (diante da salvação da alma a saúde do corpo nada significa), conduzindo seus ouvintes a uma vida tranqüila, ou absolutamente despreocupada em relação à alimentação, como que antevendo a época atual onde 99% das preocupações estão relacionadas à saúde do corpo e à “nutrição saudável”. Não sendo o que entra pela boca o que contamina o corpo (“não é seu alimento que lhe adoece”), então não se deve dedicar a ele nenhuma preocupação além do mínimo necessário (tomar banho, escovar os dentes, calçar os pés, pentear-se, etc.) a uma vida social agradável, e não por causa de alguma doença oportunista. É a convivência familiar e social que deve ser lembrada quando lavamos as mãos ou escovamos os dentes, e não uma doença produzida por aquilo que julgamos sujo ou contaminado. Era assim que Jesus pensava, e este fato pode ser deduzido da resposta que Ele deu aos presentes quando os fariseus o acusaram de comer com as mãos sujas: “hipócritas! O vosso interior está cheio de dolo e imundície e vós me julgais por comer com as mãos por lavar? Ora, limpais primeiro o vosso interior e depois podereis enxergar alguma coisa” (em tradução livre).

Comer de tudo – não confundir com comer muito – sem se preocupar em como os alimentos vão atuar no organismo, era uma das regras mais essenciais da “fórmula de Jesus”, e foi por isso que Ele disse que o perigo não está no que entra, mas no que sai da boca. Pois o que sai da boca vem do coração, e é isso o que contamina as almas. É com a boca que os homens influenciam uns aos outros e espalham o medo das doenças que certamente nunca terão. Quando Paulo explicou que ele plantou, Apollo regou e Cefas colheu, deixou claro que Deus é que era o importante, pois é dEle que vem o crescimento; e aqui o exemplo também se adapta à questão da culinária e da nutrição. O caso se daria assim: “sua mãe comprou, a cozinheira preparou, a garçonete serviu e você comeu, mas Deus é quem cuida para que aquele alimento produza em você o crescimento e a saúde necessários para o cumprimento de seu tempo de vida e missão na Terra”.

Mas vejamos o conselho de Paulo nas próprias palavras dele: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios;/ Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; /Proibindo o casamento e ordenando a abstinência de alimentos, os quais Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;/ Porque toda a criação de Deus é boa, e não há nada que rejeitar se for recebido com ações de graças;/ Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada” (I Tm 4,1-5). Atente o leitor para o que está em negrito. O que Paulo escreveu se atualiza assim: “A mídia de hoje vive alardeando alimentos que você não pode comer, mas eles foram criados por Deus para nutrição de seus filhos fiéis, que deles fazem uso orando antes e depois de ingeri-los; porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada ruim se for ingerido com oração, pois a Palavra de Deus e a oração são poderosas para santificar aquilo que não faria bem sem a bênção de Deus”. Aqui está o sentido pleno e perfeito do que Paulo explicava a Timóteo. Que lições tiramos daí?

Muitas. A primeira é que se você der muita atenção à mídia – que aqui equivale a “doutrinas de demônios” – você nem vai comer o que deveria comer, e nem vai fazer jejum quando deveria fazer. Aliás, veja que iniciar um jejum consciente e com fé é completamente diferente de não comer comidas condenadas pela Medicina, e esta agora virou-se praticamente contra o jejum!… Tudo é puro para os puros, e Paulo estava convicto de que NADA é de si mesmo impuro, e tudo o que provém de fé é abençoado por Deus (Rm 14,14, mas leia o capítulo todo).

Assim chegamos ao ponto nevrálgico deste argumento. E as Escrituras Sagradas o resumiram assim: “O justo viverá da fé”. A fé foi criada por Deus (Ele é o autor e consumador dela) para a vida abundante, a satisfação e a salvação dos fiéis, e não para inchar as estatísticas eclesiais!. Se a fé for/fosse incorporada à rotina mental e diária dos cristãos, estes poderiam até mesmo desligar-se dos conselhos “de saúde” veiculados pela mídia (deveriam ouvir apenas o seu médico particular, e somente quando sentissem algum sintoma persistente) e “seguir o rumo da venta”, alimentando-se de todas as comidas que chegassem à frente de seus olhos (Rm 14,2). Porquanto a fé seria parte do alimento, ou a CHAVE PROTETORA DO ORGANISMO, blindando tudo para evitar contaminações ou indigestões. Não é à-toa que o evangelista Marcos disse que os crentes poderiam até “ser picados por serpentes que o veneno não os prejudicaria” (Mc 16,17-18), desde que eles, conscientes disso, não desafiassem o perigo para provar a verdade.

É claro que a regra da fé para a saúde perfeita é uma ferramenta periclitante, pelo seu caráter “sine qua”, ou sem retorno, obrigando à manutenção de um ânimo firme na decisão de ruptura com os padrões vigentes, de uma sociedade marionete da mídia e uma mídia vendida aos poderes econômicos que regem o mundo. Estes poderes que manipulam a mídia acabaram tornando todos os indivíduos (inclusive os médicos) inseguros em matéria de saúde, até porque a própria propaganda é enganosa, com pesquisas contraditórias e conselhos temerários, gerando insegurança e estresse. Sem uma mente amadurecida e uma consciência equilibrada “in medio virtus”, a possibilidade de um desastre é muito grande, embora a contrapartida de seguir os “modismos salutares” da sociedade de consumo seja tão arriscada quanto. Eis porque nos animamos a sugerir a velha regra bíblica para o mundo, embora acreditemos que ela alcançará, no máximo, alguns crentes mais atentos ou alguns recém-convertidos animados pela força do primeiro amor (Ap 2,4).

Deus queira que não. Eles sabem que a fé os redimiu, e seu Salvador cansou – aliás, não se cansava – de repetir “a tua fé te salvou”. Sabem que a “cirurgia da salvação” é uma via de mão dupla, com o Senhor “varrendo todo o Caminho” para o homem andar, cabendo a este tão somente decidir entregar-se de vez à obediência do Senhor, com a qual viveria, renasceria e subiria à Igreja Gloriosa, lá onde veremos pessoalmente o bem que a fé operou em nós.

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(*) Isto poderia periclitar o entendimento de “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?” (I Co 6,19), e por isso deve-se compreender que esta expressão paulina não se refere ao corpo de carne, e sim ao corpo astral, i.e, ao espírito do homem, que tem corpo mental e emocional).

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