O problema das igrejas é a sujeira da politicagem

Ouvir qualquer coisa pregada por alguém engajado a qualquer grupo é sempre ouvir o que o grupo interpreta ou a parte da matéria aceita pelo movimento do pregador. Só um homem 100% livre e independente de grupos poderia explicar uma matéria condizente com o que seu autor pensou.

Palácio do planalto-Igreja2É um drama universal em nosso mundo: nada que alguém explique estará livre de reproduzir somente aquilo que seu mensageiro escolheu para falar, ou pior, aquilo que ele interpretou do autor, ensinando algo que seu coração introduziu na fala do outro, como se este tivesse o seu mesmo pensamento. Isto se aplica a diversos ramos do conhecimento, como por exemplo: um psicólogo brasileiro interpreta a Psicologia de um psicólogo americano como ele queria que o americano tivesse pensado; um político esquerdista sempre interpretará para a esquerda aquilo que um autor apolítico ensinou em seu livro como algo benéfico universal, mas de todos os regimes; um pregador religioso de uma corrente luterana sempre tenderá a inscrever nas doutrinas de sua igreja aquilo que um autor desengajado escreveu com intuito de um bem universal; ou simplesmente dirá que o autor também era um luterano e por isso “a coincidência de idéias”… – Eis aí o problema exposto às claras.

E se este fenômeno for tão comum neste planeta como parece, então nenhum autor neste mundo sofrerá mais desta “chantagem” do que CS Lewis. Justo porque a matéria que Lewis representa é religiosa, e a religião é o tipo da coisa que faz de tudo para garantir quorum, mesmo à custa da verdade que diz defender.

Suponhamos que Jesus voltasse uma segunda vez para morrer de novo na cruz e uma terceira vez para julgar o mundo. Ora; fica óbvio que qualquer pensador das várias denominações cristãs de hoje, se pudesse ter acesso ao segredo da segunda vinda de Jesus, imediatamente iria querer a posse do segredo para espalhar no mundo a notícia de que foi o próprio Jesus quem lhe revelou tal coisa, e assim conquistaria a adesão de multidões incontáveis de seguidores! (Percebe a coisa?)… Pois eis que ele falaria “o bem” que as massas querem ouvir e receber como seguidores de Cristo, e nada melhor do que tornar a sua denominação porta-voz exclusiva do Evangelho!

Os exemplos acima foram “meio toscos”, mas servem direitinho para mostrar o que está acontecendo com CS Lewis. Numa palavra, Lewis trouxe a visão plena da Revelação. Trouxe a completeza da verdade além dos limites óbvios das Escrituras. Trouxe a interpretação do próprio Deus aos mistérios teológicos milenares, não revelada aos “escribas e fariseus”, para bom entendedor (Mt 13,11). Isto tudo o coloca no difícil e problemático posto de único detentor de um ensinamento que os cristãos deveriam ter ensinado há séculos e não o fizeram, e assim, não sendo um “denominacionista” engajado, só ele poderia falar “suprapartidariamente”, ou interdenominacionalmente, acerca de uma boa nova para os cristãos que já a haviam recebido, mas nunca a haviam visto antes (Mt 13,13). É como um menino que já havia ouvido a mãe sussurrar coisas no ouvido do pai, coisas de um livro erótico que está na estante da casa, e o garoto, por ser pequeno e não se interessar por estas coisas, pensou jamais ter recebido tal coisa. Quando ele cresce e procura livros sobre sexo, entenderá que a mãe já havia falado aquilo tudo perto dele, e seus ouvidos estavam como que surdos ao desconhecido. É a estranha “equação da convivência”, de que falava Luiz Carlos Lisboa: aquilo com que convivemos diariamente é também aquilo que mais podemos deixar passar despercebido, e esta equação é a maior febre das Escrituras Sagradas.

Os cristãos, acostumados a pensar apenas aquilo que seus líderes lhes mandam pensar (sendo estes por sua vez também acostumados a ver apenas aquilo que seus velhos líderes lhes transmitiram), e assim sucessivamente, ao final das eras toda a Cristandade não saberá de coisas que Deus já havia contado, e um novo profeta apenas terá que reprisar a revelação com os detalhes omitidos.

Eis aí onde entra CS Lewis. Ele não tem culpa da cegueira das denominações! Ele não tem culpa de as igrejas, cada uma puxando brasa para sua sardinha e mancomunando-se com seus líderes intramuros, caíram na cegueira da verdade que quebra os muros e aponta para o horizonte, desenhando um Cristianismo Celestial, onde a interpretação é a verdade e esta nem precisará de interpretação. Porquanto quando o próprio Deus falar a verdade completa, todas as igrejas perceberão o tamanho do fora que deram por não visualizarem aquilo (ou pior, por negarem o que viram) e só assim aparecerá a Igreja de Deus, a Gloriosa Noiva, que rejeitou as virgens néscias.

SalesmanNeste ponto é que o argumento chega ao seu centro. Quando dizemos que o problema das igrejas é a sujeira da politicagem, e que ouvir qualquer coisa pregada por um engajado é sempre ouvir o que o grupo interpreta ou a parte da matéria aceita pelo movimento do pregador, estamos escancarando a dor de conviver num ambiente sempre falso, ou bajulatório, ou proselitista-populista, exatamente como ocorre nos círculos da política partidária. Experimente levar a um esquerdista uma proposição de direita e entenderá o que estou falando e vice-versa. É por isso que ninguém pode fazer de sua casa uma “igreja” (Jesus disse que onde houver 2 ou 3 reunidos em seu nome, ali seria uma igreja, chamada pequenino rebanho) sem ter que dar explicações a líderes protestantes e católicos: os primeiros se aproximarão para sondar de que grupo nós somos e tentar angariar-nos para eles; e estes últimos nem sequer permitirão tal coisa, pois no conceito de paróquia, só aquilo que nascer de párocos terá bom parto. – Falamos mais alguma coisa sobre isso NESTE link.

Por tudo isso foi que nos aventuramos a fundar um movimento que chamamos de Escola de Aprofundamento Teológico (o qual deveria ser uma igreja como outra qualquer), na intenção de quebrar este paradigma da instituição político-religiosa, o qual atrapalha a entrega solta da verdade e prejudica sobremaneira a vontade de Deus de se manter com a boca livre, como faz o Espírito Santo (João 3,8). E até isto era fácil de prever, pois, se Deus um dia antevisse – e Ele costuma fazer isso mesmo – que a Sua Verdade completa iria ficar amordaçada a uma meia dúzia de fariseus, o mais provável era que arranjasse obreiros independentes, inteligentes, geniais, para aspergir no mundo os fatos omitidos pela ignorância ou pelo proselitismo, revelando a excelência da Verdade às poucas ovelhas livres das denominações e sedentas do algo mais que falta às igrejas.

Eis porque elegemos como nosso profeta o mestre Lewis, e alegamos que só um homem 100% livre e independente de grupos poderia explicar uma matéria condizente com o que seu autor pensou. E se este autor fosse o próprio Deus então, esta dica já havia sido dada há milênios dentro de toda a Escritura. Nem precisa ir muito longe: basta reler o que o eunuco na carruagem perguntou a Felipe: “Como poderei entender, se ninguém me explicar?”. Um novo eunuco perguntaria: “Como poderemos ver além das igrejas, se Lewis não nos explicar?”… Durma-se com um barulho desses!

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