SEMANA LEWIS 2018: Olhar o cenário e não ver como Lewis é cegueira pura

Se já lemos e conhecemos CS Lewis, então olhar o mundo e não enxergar a teologia cristã em tudo é cumprir a risca a – ou cair na – advertência de Jesus de um “cego guiar outro cego”…

Na Semana Lewis 2018, esta Escola promove estudos diversos em CS Lewis e na Bíblia Sagrada, com olhares fundamentados na Idade Média (por causa da paixão que Lewis sentia pelo Medievo), para iluminar o olhar do homem moderno em torno de si, após a cegueira espiritual engendrada pela Mídia de massas de nosso tempo. Com efeito, apresso-me a adiantar que, até mesmo as piores atrocidades cometidas pelos medievais contra as “almas supostamente inocentes” das “alcovas obscuras” daquela época, não passa de “briga de criança” em comparação com a profundidade do Mal que “vive e reina” agora na pós-modernidade.

O pior é que nos dias atuais, não se encontra nem mesmo o recurso providencial e salvador da boa leitura (como também não se encontra mais a boa música), estando a Humanidade inteira aprisionada aos governos tirânicos e suas técnicas de lavagem cerebral e engenharia social, de tal modo que o próprio senso crítico que antes enxergava o mal que vinha prejudicar (ou que subia em oposição à felicidade na Terra), agora o recebe de braços abertos e até com sensações de prazer, levando qualquer olhar mais atento a descobrir o quanto a liberdade humana foi suprimida, sem que suas vítimas jamais percebam a armadilha e por isso até lutem para se manter nela, alegremente, feito pinto no lixo.

É aqui que entra CS Lewis. Quem tem ouvidos de ouvir que ouça. Porquanto dizer que estamos num tempo onde não há mais boa leitura, pode ser encarado como uma espécie de “hipérbole de massas”, porque os livros de C.S. Lewis, G.K. Chesterton, J.R.R. Tolkien, JB Phillips, Russel Champlin, Olavo de Carvalho, Luiz Carlos Lisboa e outros grandes nomes da literatura, foram dados à sociedade justamente na pós-modernidade, e esta pode ser encarada, neste sentido, como “a era literária mais feliz e completa da história da Terra”, e os próprios apóstolos de Cristo teriam desejado viver esta nossa época, sem falar no privilégio de viver “os últimos dias do mundo”, de que falava Pierre Kohler.

Nem é preciso ler tudo isso para encontrar argumento corroborador da visão realista da nossa “era da incerteza” de que falava J.K. Galbraith, e a leitura de quatro ou cinco livros de CS Lewis já bastariam para deixar o leitor estarrecido e preocupado com o que o mundo tem apresentado todos os dias, em escala crescente de maldade, num sinal evidente de encerramento da vida humana dentro da biosfera terrestre. Aliás, nem precisaria o encerramento da vida biológica e certamente este não é propriamente o desejo da mente luciferiana por trás dos fatos, mas sim o fim da liberdade de consciência, quando a Humanidade enfim perder – literalmente – o seu lado humano e passar a ser uma espécie de massa amorfa manipulada por demônios. Recentemente fizemos um vídeo sobre isso (veja AQUI). Lewis explica isso a partir do plano individual, quando ele diz assim:

1a tradução da ABU e 1a tradução da Ed. Luterana, em 1a Pessoa do Plural (Seção “Livros” deste Site).

[Abre aspas] A verdadeira prova é a seguinte: suponha que você veja no jornal uma reportagem sobre atrocidades e crimes violentos e que, depois de alguns dias, alguém revele que a reportagem era falsa e que as atrocidades não eram tão terríveis quanto pareceram na primeira versão. Então, qual será sua reação? Será: “graças a Deus, os bandidos não eram tão maus assim”?; ou, ao contrário, você ficará ‘decepcionado’, disposto até a continuar acreditando na primeira reportagem, pelo simples prazer de continuar julgando seus inimigos tão maus quanto possível?… Ora, se for a segunda reação que lhe ocorra, isto significará o início de um processo que, ao final, o transformará num demônio. É fácil notar que a pessoa que agiu assim está começando a desejar que a escuridão seja um pouco mais escura. Se dermos vazão a esse tipo de sentimento, logo estaremos desejando que a penumbra também seja escura, e depois, que a própria claridade seja negra. No final, estaremos vendo tudo — inclusive nossos amigos, Deus e até nós mesmos — como maus, e não seremos mais capazes de parar. Assim ficaríamos presos para sempre num universo de puro ódio. [Fecha aspas]. (Livro “Cristianismo Autêntico”; ‘Mere Christianity’, Capítulo “O Perdão”; Livro III, Comportamento Cristão).

Neste mesmo livro, Lewis chegou até a intitular um capítulo com um título bem auto explicativo, e somente o título é capaz de mostrar o quanto seu autor de fato via com bons olhos (no sentido de “olhar acurado”) a escalada do mal no mundo, e o leitor deste artigo também deduzirá isso sem nenhuma dificuldade. Refiro-me ao capítulo intitulado “Temos razão para estar preocupados” (capítulo 5, Livro I).

Mas esta “preocupação” se centra num ponto crucial para quem enxerga como Lewis. A saber: que a maldade profunda das trevas, invasora do mundo desde antes da criação da Humanidade, teria levado a raça humana ao “abismo do niilismo cósmico”, do qual Lewis explica como sendo uma espécie de “volta aprazível ao zero absoluto”, ao Vazio, ao Nada. Ou seja: o desejo profundo das trevas era de fato anular, aniquilar e eliminar para sempre a individualidade humana, substituindo-a pela posse definitiva das almas por demônios, ou por um estado de “fusão” tão profundo com anjos caídos que da alma nada mais restaria, a não ser a existência em si (porque as almas são imortais e ficará claro que um suicídio é uma terrível ilusão).

O fim da possessão individual e coletiva da personalidade seria a “aniquilação absoluta”, e podemos ver nas três primeiras letras de ANIQUILAÇÃO as três primeiras letras de ANIMAÇÃO (ânimo de vida, que vem de “anima”, alma). Entendamos aqui que a aniquilação será a destruição definitiva de quem foi outrora uma personalidade humana individual, capaz de distinguir a si mesmo, bem como seus desejos e razões, e agora nem sabe mais que existe. Isto é a definição exata do que ocorre no inferno, e este inferno já dá sinais claros de iniciar esta aniquilação já nesta vida, agora em alto e bom som, nestes tempos obscuros da pós-modernidade.

E pior, é uma correnteza tão medonha e definitiva que Lewis chegou a temer que ela seja inexorável, ou seja, sem remédio, sem cura, sem retorno, sem socorro. Um terror puro, ao vivo e a cores, diante de nossos olhos lewisianos. Mas o leitor aqui perguntará: existiria algum mal que “nem Deus” pudesse curar? Infelizmente a resposta é sim, e ela pode ser a mesma resposta que daríamos se a pergunta fosse feita a um médico. Ele diria: “nenhuma doença tem cura quando o paciente não quer a cura!”. Com efeito, é aí mesmo que reside o grande mal.

Até o final da idade média, toda a maldade pensada e praticada sobre a Terra enfrentava uma oposição realmente ferrenha, até mesmo pela própria consciência dos malfeitores, pelos seus familiares, pela igreja, enfim, pela sociedade em si. Isto é: a consciência ainda não tinha sido vencida. E homem mau conhecia o mal e também “sentia” até onde no mal caiu, e assim o arrependimento era uma realidade até certo ponto “fácil” de encontrar. Os confessionários – muitas vezes com filas “quilométricas” – eram uma prova cabal disso. Havia até um sentimento de “glamour” ou de “boa reputação” para quem fosse visto nessas “filas”, e suas personagens não sentiam quase nenhum impedimento moral de voltar ao convívio social. Aliás, aqueles que não voltavam ao convívio social geralmente eram as almas cuja aniquilação já havia iniciado tão drasticamente que já tinham deixado um rastro de sangue em seus currículos, sem falar na manipulação de feitiçarias, lascívia com crianças e até o uso destas em rituais de sacrifício. Todas as outras almas pecadoras voltavam à sociedade e, salvo nas quedas escandalosas, se mantinham alegres e benquistas em festas, mercados e reuniões públicas. Mas na Modernidade não ocorre assim.

Hoje em dia, pasme o leitor, não apenas as almas perdidas DESEJAM voluntariamente a perdição, mas a própria sociedade a aceita e até a promove, uma vez que o senso moral foi substituído pela “lei da falsa liberdade”, e em nome desta TUDO é permitido, tudo é incentivado, tudo é relativo e nada em contrário se levanta. Os confessionários de hoje viraram sucata e motivo de chacota, e quem quer que entre numa fila de confissão (se é que esta chega a se formar nas raras igrejas que ainda mantêm confessionários) quase é vaiado, ou sempre é interpretado como um babaca que “parou no tempo e no espaço e não viu que confessar-se a um padre é um resquício da escravidão medieval”.

Com efeito, é este conjunto “almas inconscientes versus sociedade conivente” que caracteriza o “modern infernum” de nossa era, e a própria raridade desta visão aponta diretamente para o fim da história humana, descrita em detalhes pelas profecias do Novo Testamento. Mas voltemos para a questão de uma doença que nem o próprio Deus cura.

O cenário atual é, pois, inexorável, e C.S. Lewis o explicitou magistralmente no último livro das suas “Crônicas de Nárnia”, deixando os cristãos pós-modernos com o queixo caído, só encontrando um modo de ver a nossa situação, i.e., “das duas uma”: ou o crente vê tudo isso com os devidos “olhos santos” de suas responsabilidades morais intransferíveis; ou vai se levantar contra a visão de C.S. Lewis, achando que ele não viu bem as coisas, ou interpretou errado o Novo Testamento, ou não deve ser tão cristão quanto diz ser. E aí o erro é fatal.

Porquanto NINGUÉM viu melhor o estado do mundo do que CS Lewis, embora tenhamos visto em GK Chesterton, Tolkien, Olavo de Carvalho e outros, uma verdadeira iluminação divina sobre o caminho obscuro descrito por Lewis. Mas Jack o expôs com as imagens colossais da loucura humana elevada ao extremo, escancarando a última participação do Deus-histórico na História, na qual o próprio Criador parece fazer como Pilatos, “lavando as mãos” diante da esquizofrenia da vontade e do ego levada às últimas consequências!

A cena é a do Criador, assentado sobre toda a sua autoridade divina, aguardando apenas que as últimas e poucas almas sigam o eco de seu chamado à sensatez, com sua voz já em silêncio, abafada pelos estrondos retumbantes do apocalipse. Um Leão sentado ao lado da porta (João 10,9) apenas espera os últimos narnianos capazes de sair da escuridão exterior e interior, após o que a porta é fechada e aquele velho mundo lacrado para sempre “num universo de puro ódio”, como ele descreveu num trecho citado de “O Perdão”. Ali está a descrição perfeita do que ocorrerá na Terra, e estes últimos dias da pós-modernidade estão a apontar a chegada da porta “que se abre no ar”.

Conclusão? Neste drama atemporal? Não ouso arriscar palpite. O Criador está “parado”, em silêncio, “lavando as mãos”, ou apenas a olhar o fim da história terrestre com seus olhos de leão afogados em lágrimas. É uma situação irremediável até para o Médico dos médicos, que tem a Medicina Infinita do Ágape e do Perdão. Tudo agora só depende de nossa vontade pessoal, mas a corrosão de nossa consciência dificulta enxergarmos em que abismo entramos. Logo, em nosso caso, a esperança cristã está na dependência de nos mantermos confiantes em Cristo e na sua Santa Palavra que “não passará até que os céus e a terra passem”, e a crença na iminência da Parusia tornou-se a Chave e o grande sinal de sobrevida do Cristianismo neste tempo. Sem ela, o Vazio toma conta de tudo, e se alimenta do vazio humano.

 

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