A índole pacífica de Jesus pode ser um mito

Uma revisão mais acurada da Escritura Sagrada e a experiência viva de convivência com os males do Comunismo deixam nos cristãos uma pergunta sem resposta ou uma outra resposta…

A convicção de que Jesus sempre daria a face esquerda para quem lhe batesse na direita, o perdão aparentemente irrestrito dado aos inimigos e o silêncio irritante perante a falsidade do sinédrio na via sacra, induzem o leitor a fechar questão sobre o pacifismo radical do Nazareno, concluindo qualquer discussão que se apresente refratária ou com ares de insubmissão à Teologia da Misericórdia. É este o assunto que iremos (tentaremos) enfocar aqui, com esperança de não encontrar entre nossos leitores apenas “árabes ou hooligans” sedentos de vingatividade.

Porquanto a escalada crescente e inexorável do Maligno em todos os quadrantes do mundo e a irrefutável constatação de que “o Bem e a inocência não subsistem em ambientes onde a crueldade campeia livre”, tem nos fornecido ferramentas mais que suficientes para “imaginar” uma outra Nárnia, com todas as portas fechadas, ou um Paraíso depurado a pente fino, ou um Reino escatológico onde a entrada de súditos foi submetida a uma rigorosa seleção, por “fiscais anjos” de Deus.

E mais: esta constatação não é de estranhar nem mesmo para o Reino escatológico ensinado e acreditado nos seminários cristãos. Porque no cotidiano e na esteira de todas as disciplinas ali ministradas, tem-se por certo – e inquestionável – o fato de que “o Céu efetivamente não é um lugar para o pecado”, e que Deus só admite em seu Reino a santidade, cuja perfeição depende de ficarem de fora dela todos os menores ou mínimos indícios de maldade ou mesmo de “erros bobos humanos”, cumprindo a lei máxima de “o Santo dos Santos é exatamente aquilo que a expressão ‘santo dos santos’ significa”. A velha noção cristã, do início do Cristianismo, de que “no Céu só entram santos” (e por isso a ideia de Purgatório acabou germinando entre os cristãos) nunca foi questionada e está a cada dia mais sólida em todas as teologias, mesmo as egressas da Reforma.

Porque esta lei de que “no Céu só entram santos” é RADICAL! É severa! É rigorosa! É até intolerante, no sentido modernoide, porque ameaça com um inferno eterno quem apenas pecou por uma mera mentirinha de ocasião! Com efeito, se deixada abandonada a um canto da mente pouco lúcida pós-adâmica, inevitavelmente o cérebro dos macacos irá resmungar e apelar dizendo “mas foi só uma mentirinha”, e com isso sentindo-se no direito de exigir uma entrada salvadora no Reino eterno. É uma conversa que começa com a acusação de uma mera mentirinha e depois faz a mentirinha esconder a falsidade infernal de todas as maldades. Nenhum mal é 100% honesto, e nenhuma bondade 100% honesta incorpora o mínimo indício de falsidade: aqui está uma equação matemática SEM EXCEÇÕES, onde se diz com propriedade que “os números não mentem JAMAIS!”.

Isto posto, conscientizados de que no Reino de Deus nunca entrou nem jamais entrará a mínima concessão da mais ínfima mentirinha, segue-se que o Céu é um lugar de santos e para santos, e por isso teria que haver “um lugar onde as almas humanas chegassem à perfeição ANTES de adentrar no Reino Divino”, seguindo a lógica teológica da “aseptic summa paradisi” (assepsia extrema do Paraíso), sob pena de, no contrário, o Cristianismo se visse obrigado a admitir em sua escatologia a hipótese reencarnacionista, única saída para a purificação exigida pela santidade necessária do Céu.

Voltando à chamada “índole pacífica” de Jesus, agora o leitor é chamado a ver que essa tal índole pacífica não parece ter saído da mesma escola de teologia onde Jesus “teria aprendido sua onisciência”, e muito menos parece coerente com o edito imperial da santidade do Céu, porque o próprio Jesus sabe que no frigir dos ovos e no apagar das luzes, qualquer mínima concessão ao pecado resultará num paraíso falso onde a maldade violentará a inocência, e onde nem as crianças estarão seguras no Reino que Ele mesmo disse “pertencer às crianças”.

Com efeito, “passar a mão na cabeça” de um mero mentiroso exigiria uma das duas hipóteses escatológicas: punição do mentiroso ao Purgatório sem data para acabar (cujo fim só se daria após investigação de Deus naquele coração falso) ou lavagem posterior do pecado contra a vontade do pecador, coisa que é impossível na Lei do Livre-arbítrio dado por Deus e irrevogável em todos os sentidos.

Assim sendo, por que Jesus “passou a mão na cabeça” de tanta gente ruim? Por que o seu perdão aparentemente irresponsável pareceu à Humanidade ferir tão profundamente o nosso senso de justiça? Esta é a questão que vamos tratar aqui. Este é o espinheiro que tentamos ultrapassar sem nenhum arranhão.

A nosso ver, a única saída é: deve ter havido algum mau entendimento na questão do perdão de Deus, e ele pode ter começado no episódio clássico do encontro de Jesus com Maria Madalena, cuja narrativa foge e sempre fugiu da exatidão, por negligência ou malícia de escamotear a última palavra de Jesus dada à ex-prostituta. Tudo leva a crer que a Humanidade, desde que soube do perdão de Jesus à bela meretriz (e à sentença perigosa que esconderia o Purgatório – “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”), passou a incorporar a noção de que “ao final de tudo o perdão virá para todos”, deixando fragorosamente abandonada a sentença radical e intolerante que diz “vai e não peques mais”, como condição única – de ingresso ao Paraíso – e resgatadora da verdade do Purgatório.

Assim sendo e portanto, nossa visão da Maldade suprema (implantada neste planeta que jaz no Maligno, e cujas operações ficam transparentes em qualquer análise lógica e em qualquer estudo – por mais tosco que seja – do Comunismo, marxismo, leninismo, stalinismo, etc.), termina por exibir almas humanas tão perniciosas que põe em cheque toda a falsa noção do perdão irrestrito, e entroniza a sentença “vai e não peques mais” como edito santo e imposição “sine qua” atirada em rosto de todo mundo, e por isso a impunidade aviltante encontrada em certos países – como no Brasil – ferem tão violentamente o nosso senso de Justiça, mas também expõe com clareza cristalina o ódio de Deus ao Comunismo.

Isto posto, como entender o silêncio de Jesus perante o sinédrio e a declaração frustrante de dar a face esquerda para quem lhe bater na direita? Então deve-se perguntar: haveria algum sinal no Novo Testamento de que Jesus teria sido sempre um “pacifista tolerante à falsidade humana”? (A rigor todos os pecados são falsidade – Deus sabe disso!)… Sim, há. Há a velha passagem retratando o episódio das chicotadas dentro do Templo, mas a Humanidade falsa pára aí. A Humanidade falsa sempre diz que o episódio do Templo “foi a única vez que o senso de Justiça humano de Jesus aflorou”, e por isso somos obrigados a “segurar” (ou amordaçar) nosso senso de Justiça até as últimas consequências, fazendo vista grossa para aquela pequena mentirinha que depois de 33 anos irá negar a Ressurreição! O leitor está entendendo tudo?

Ou seja, omite-se todas as outras passagens onde a índole pacífica de Jesus é substituída pelo senso de Justiça extrema do único Juiz justo e assim se propõe veladamente a impunidade que se vê em países como o Brasil! Então cabe perguntar agora: o que faria Jesus para com indivíduos que, após causar todo tipo de crueldade a um povo inteiro, não desse o menor sinal de arrependimento? Será que daria a outra face? Fica claro que não! Fica claro que foi o próprio Maligno que imiscuiu a falsa noção de misericórdia, sussurrando em nossos ouvidos a ideia de que o perdão de Deus admitirá todo mundo em seu Reino, independente de como nos comportaremos após o perdão!

Mas as outras passagens da Escritura que apontam um suposto “oposto da Misericórdia” expõem a certeza de que o Novo Testamento não foi omisso – e portanto não foi injusto – e quando foi lacônico cedeu lugar ao esquecimento dos autores canônicos que, imperfeitos em TODAS as suas narrativas (oriundas da memória falhíssima do cérebro dos macacos), perderam as referências mnemônicas da intolerância de Jesus ao pecado, além de sentirem talvez como “mais útil” ao registro histórico manter mais acentuada a teologia do perdão do que a exigência de santidade, a qual traz a antipatia intrínseca perante almas rebeldes e viciadas nos prazeres da carne.

Mas algumas passagens da “intolerância” devem ser revistas aqui.

Uma vez Jesus pediu aos apóstolos para comprarem espadas, símbolo da guerra e do exército (Lucas 22,36). Os “cristãos da misericórdia injusta” dizem que Lucas foi o único a mencionar isso e o episódio nada tem a ver com uma “instrução vingativa” de Jesus ao pecado, ensinando a falsidade de que fazer justiça não é o mesmo que “vingar”. Os ‘cristãos pacifistas’ não mencionam jamais que se a vingança fosse “injusta” o próprio Deus não a teria tomado para si, como mostram passagens onde o último dia da Terra é aclamado nos Céus como “o dia da vingança do Senhor” (Lc 21,22; Is 34,8 e 61,2; Jr 46,10 e 51,11) e o próprio Yaveh dissesse para nós “a mim me pertence a vingança” (Rm 12,19 e Hb 10,30).

Noutra passagem, Jesus diz que “não veio trazer paz à Terra, mas espada!”. Existe coisa mais clara que esta? Mateus registrou esta bomba em Mt 10,34.

Outra vez Jesus mostrou tamanha intolerância que grupos de “hooligans” e outros radicais tresloucados usam para justificar suas ações “justiceiras” racistas, como que encontrando “razões” para perseguir e matar pela cor da pele, credo religioso e outras diferenças “epidérmicas”. Foi outra passagem de Lucas: 19,27. o pior é que Lucas diz que Jesus “pede para os apóstolos” (pasmem bem) a missão de matar os inimigos que não quiseram se submeter às regras do seu Reino! Não lhe parece coisa de um “rei tirânico”?

Por último, Jesus mais uma vez deixa escapulir o seu ódio ao pecado (lembre que a Lei é “amar ao pecador e odiar ao pecado”) e sentencia uma outra “bomba de intolerância”, castigando o pecado da traição com uma palavra ‘cruel’, que remonta ao autor de “eu sou eu e as minhas circunstâncias” (o qual diz: “nunca pedi para nascer”). Ali, ao falar de quem pratica a traição, Jesus diz que seria melhor “nunca ter nascido” (Mt 26,24). Pior, noutra ocasião Jesus expressou-se contra o “mero” pecado do escândalo – escândalo que Ele chamou de “inevitáveis” – com uma sentença pra lá de violenta, dizendo que dever-se-ia pendurar uma pedra no pescoço do ‘escandalista’ e lançá-lo ao mar (Lc 17,1-2). A mera desobediência à Igreja é castigada com a expulsão (excomunhão), sem se ‘lembrar’ que no futuro a alma rebelde se arrependa e volte à porta do Templo (Mt 18,15-18), dando a entender que aquela expulsão executada na Terra será ratificada no Céu (verso 18), como que “pulando” a etapa purificadora do Purgatório que pode salvar a alma rebelde.

Enfim, tudo leva à suspeita de que a índole pacífica de Jesus pode ser um mito, ou uma mera “lisonja” dos autores canônicos, cuja razão pode ser a utilidade e a emergência de deixar, no meio de um mundo insano e violento, a noção de que Jesus é um Deus de Amor, justamente porque “ama a quem é impossível amar”, ou ama a quem ninguém de bom juízo jamais amaria. E isso foi mesmo registrado em outra passagem instigante (Rm 5,7-8), a qual diz “dificilmente alguém morreria por um justo, pois poderá ser que por um bom homem alguém se anime a morrer; mas Deus prova o seu [estranho] amor para conosco por ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores [ou malignos]” (expressões nossas entre colchetes).

Agora está claro a coisa toda. Tentarei um resumo agora.

Deus sabe que a luta contra o Mal não pode ser piegas e ingênua. Deus sabe que o Mal tem a terrível derivada da mentira e da falsidade, e que havendo falsidade não há possibilidade de recuperação. A falsidade é um “pecado eterno”, como registrou São Marcos em Mc 3,29 e pecados eternos merecem penas eternas. Neste caso, neste estrito caso, lidar com o Mal só pode utilizar a linguagem da vingança (os homens maus não entendem que vingança aqui é sinônimo de Justiça), pois somente o mal de retorno ou de revés pode levar a alma má a “entender” o mal que praticou, se já não tiver há tanto tempo a praticá-lo que seus olhos ainda enxerguem alguma coisa. É isto que os grandes estadistas e juristas do mundo dizem quando usam expressões como “com terroristas não há diálogo”; “não se conversa com terroristas”.

Finalmente, ouso afirmar que o combate ao Comunismo está alicerçado por Cristo no Novo Testamento, e que o remédio para a esquerdopatia é duro e intolerante, em vista dos riscos de permitir que a falsidade penetre nos ambientes puríssimos da Nova Jerusalém. Deus não permitirá tal injustiça em seu Reino simplesmente porque a impunidade é invenção humana, e o Senhor dos Exércitos nunca deixou o Mal por punir, ou nunca alisou a face esquerda do Maligno, nem lhe deu a outra para bater. Se estamos vendo eclodir no mundo tamanha injustiça, e pior, se estamos vendo a própria Igreja tolerar a impunidade como produto de um perdão injusto, podemos estar certos de que a volta de Jesus ao mundo é iminente, porque para Deus nenhum pecado prescreve, exceto se Ele encontrar, com seus olhos perfeitos, sinal evidente de arrependimento.

 

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