A única pergunta que o Homem está obrigado a responder

“Por que o último culpado em qualquer pecado nunca admite sua culpa?”: Com esta pergunta Deus faz a síntese completa da Doutrina da Salvação, e nada mais pode fazer que esperar a resposta.

Cullpado EUNão há nenhuma discussão mais importante. Nenhum discurso a supera. Nada deve ser dito além dela, e nenhuma conversa deveria se iniciar, sem dar atenção a ela. Tudo depende dela, e ela resume tudo o que resta da relação final de Deus com este planeta. Porquanto no apagar das luzes e no auge de todas as conclusões, a pergunta “por que o último culpado em qualquer pecado nunca admite sua culpa?” permanece inabalável e vitoriosa, sem dar trégua a ninguém ou mesmo uma chance mínima de arrefecer seu ímpeto acusatório sobre cada um de nós, que jamais damos a ela a atenção necessária e fugimos dela como o diabo foge da cruz (aliás, ele mesmo, jamais a encarou ou a encara de frente, por estar inchado de orgulho e jamais admitir seu erro próprio e pioneiro).

Foi assim também com CS Lewis, quando ele tentou tocar nesta ferida purulenta, verdadeira chaga aberta no coração humano, jamais curado por jamais querer a cura. No velho e famoso artigo “O grande Pecado”, capítulo 8 do livro “Cristianismo Autêntico”, Lewis botou o dedo bem no meio desta chaga e disse mesmo, em alto e bom som, ninguém está isento deste mal e ninguém o reconhece em si” (lembre que este mal foi chamado de “O GRANDE Pecado”). Esta escola já tocou diversas vezes no assunto, sendo as mais importantes as seguintes:

Link 1: “O Grande Pecado” (narrado);

Link 2: “O que é a blasfêmia contra o Espírito Santo?” (pregação);

Link 3: “A Humildade de Deuis” (publicação web).

Trocando tudo isso em miúdos, a virulência e a crueldade deste pecado são tão hediondas que pode-se seguramente dizer que qualquer palavra e nenhuma conversa tem sentido na Terra, enquanto os homens derem as costas àquela pergunta, e toda a história humana pode ser encerrada aqui mesmo, NESTE exato instante, sendo o adiamento da parusia o grande mistério da Misericórdia divina, já que Deus sabe, mais do que ninguém, que todas as tentativas de resgate humano são vãs, sem a resposta àquela pergunta!

Interrogação útilNão adianta ser o melhor filósofo, o melhor médico, o melhor professor, o melhor pregador, e até o melhor “santo”, se aquela pergunta não tiver sido atendida e aquele passo dado. Tudo o mais é demagogia e hipocrisia, e ficar em silêncio é a única saída para bom entendedor. Fernanda Pompeu até chegou a dizer que “não existe uma ‘big verdade’ pessoal pessoal”… Mas existe sim: e ela é muito triste porque nos chama de monstros algozes, e nos coloca na cena da via sacra, açoitando Jesus. Aqui a verdade se levanta até contra o papa, que uma vez declarou que “não há crime que possa tirar alguém do coração de Deus”, e estava certo, mas esquecido, pois não é Deus quem nos retira das santas mãos, mas nossas mãos sangrentas que expulsam Deus de nosso coração.

De que se trata afinal? Ernesto Bono tateou ao redor e mesmo assim não tocou no ponto: “o ego-ladrão”, como chamado por Bono, não é apenas um inimigo interior (como muito bem explicou o Dr. ‘T’), mas é aquele eu-demônio que impede sempre, invariavelmente, qualquer tentativa de indicação da origem do mal, desviando sempre, invariavelmente, a culpa para outrem ou alhures. Nunca alguém, pessoalmente e honestamente, chega a dizer: “o último e pior culpado sou eu, e só com o meu arrependimento genuíno o mal poderia ser combatido”. Este autor está dizendo exatamente isto mesmo, aqui e agora, com a esperança de que o leitor também faça o mesmo, ou pelo menos finalmente veja onde se localiza o pecado! (porque ver é uma coisa, curar-se é outra completamente diferente!).

InterrogaçãoDe qualquer forma, deve haver alguma razão, por mais tresloucada que seja, na mente de Deus, para Ele continuar tendo esperança de cura para a Humanidade. Certamente Ele deve ver bem a contribuição de Lewis na indicação da culpa final do pecado; deve ter visto a indicação direta e sem papas na língua, de Dr. “T” apontando o inimigo mortal no interior de cada alma humana; deve enxergar bem a insistência heróica da Igreja Católica, ao iniciar todas as suas missas pela frase “para que possamos comungar dos santos mistérios, confessemos os nossos pecados”; enfim, devem haver sinais positivos de uma luz no fim do túnel da pecaminosidade humana, e Deus deve estar “se segurando” ou confiando nesta esperança, embora Deus jamais espere nada.

Com efeito, somos nós quem temos que começar a encarar de vez este demônio arredio, encravado no nosso coração, e começar a batalha tirando imediata e justamente o pronome “nosso”. Se ele estiver no meio, a cura não virá! É preciso voltar a falar “eu”, “meu eu”, “eu mesmo”, “meu ego maligno”, “meu egocentrismo”, enfim, um banho de humildade à luz da humildade do próprio Jesus, pois o Nazareno é o único homem que poderia sentir algum orgulho (por jamais ter pecado) e mesmo assim jamais o fez, ao ponto de dizer uma vez: “bom só existe um, que é Deus”, respondendo a alguém que o chamou com justiça de “bom Jesus” (Marcos 10,17-18).

Ponto-Interrogacao-26286Sem dúvida aí está o centro da questão. Ela está no centro. CS Lewis, no mesmo artigo, sentenciou esta pérola: “enquanto não olharmos para o alto e vermos que, em comparação com Deus, não somos absolutamente nada, nenhuma solução teremos”. Jack também diz que, se um de nós (o leitor deve dizer comigo, “se eu mesmo”) um dia matar alguém, a atitude cristã correta seria irmos à polícia e nos entregarmos, confessando o crime e pedindo a pena máxima. Não podemos nos queixar de Deus ter deixado a vontade dEle bem clara aqui, pelo menos nesta questão da doutrina do pecado.

E deixou também um consolo: a clareza desta verdade! Porquanto jamais olharemos para a História humana e não veremos justamente isto: o mal sempre esteve e está presente, mas nunca foi reconhecido ou nunca é reconhecido por quem o pratica. Jamais poderemos um dia acusar Deus de esconder este fato, pois a crueldade humana é uma das verdades mais eloquentes de todas as que o homem pode acessar, e sua avassaladora frequência nos é apresentada o tempo todo e com todas as suas cores! Deve-se, inclusive, nos levar a pensar imediatamente no porquê de Deus nos mostrar isso, ao vivo e a cores, todos os dias, numa avalanche de crueldades nos 4 cantos da terra, sem qualquer respeito aos idosos e sem poupar nem mesmo a visão das crianças! Ou seja: por que seria tão importante assim a Humanidade VER tanta violência? O que Deus nos quer ensinar com isso? (Com nossa falsidade, nosso bullying, nossa impiedade)…

Bullying e falsidadeVou aventar a hipótese que reputo a melhor para esta resposta: o pecado humano (aquele VÍCIO que está lá no fundo do “eu” de todos nós) é de tal modo absurdo e hediondo, que invariavelmente leva o pecador ao máximo de sua crueldade, e jamais se interrompe antes de nos chocar! I.e., que qualquer um de nós, uma vez que temos o grande pecado em nossa alma, poderemos chegar a cometer crimes tão bárbaros que nos reduzem a uma raça inferior à das piores bestas-feras, e por isso merecemos o pior de todos os castigos, aquilo que a Bíblia chama de “Segunda Morte”. Assim, pois, a violência brutal e generalizada tem o trunfo didático de nos mostrar, nos mínimos detalhes, o quanto somos maus e o quão destrutiva é a abertura INICIAL que damos ao Tentador, pois esta fatalmente nos levará a nos tornarmos demônios (lembre o leitor que há um trecho na Bíblia que diz que nós nos tornamos até PIORES que demônios – veja em II Pe 2,9-12: há teólogos que defendem a idéia de que os ‘piedosos’ do verso 9 são anjos e os ‘brutos’ dos versos 11 e 12 somos nós!). Lembre também que em “O Grande Pecado”, Lewis diz que o orgulho É inimizade, e inimizade é o antônimo do amor ao próximo, sinônimo de ódio.

Finalmente, se este curtíssimo arrazoado ajudou de alguma forma, ao leitor consciente – pois aos outros nada serve –, e se cada consciência se animar a vencer a sua própria batalha interior (que Lewis manda que seja ininterrupta e incansável), talvez nós possamos acreditar que a extrema longanimidade de Deus tem uma razão de ser, a saber, a tresloucada confiança que Ele depositou nestes desalmados vermes, ao ponto de sempre iniciar daquele modo que Lewis disse que deveríamos aplicar à regra do amor: simulando uma situação de melhora de nossa alma, ou fazendo de conta que estamos progredindo, para, por pura magia da misericórdia, sustar a nossa decadência e nos levar ao caminho de volta à sensatez, porque se fingirmos fazer o bem, terminaremos por fazer de fato.

 

 

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