Encanto pelo desencanto

Quando a certeza do fim chega mais forte do que foi toda a dúvida impiedosa do passado, a alegria de chorar pelo mérito imerecido nos invade, com a frieza benfazeja do último verão sem descanso.

Um último poema chegaria a uma mente alegremente atordoada com o que tem presenciado no mundo? E como poderia ser um poema “redigido”, quando o poema real mal foi visualizado pelo suposto poeta redator? Muito mais que um texto, muito além da inspiração poética, lá está a verdade nua e crua da realidade, a esbofetear uns e a afagar outros, sem que ninguém saiba quem foi afagado na multidão de afogados pelo caos.

A temática parece reverberar ou complementar os ecos das antigas esperanças do Paraíso Achado sem achismo, o qual se apresentava feito virgem de lâmpada acesa, sobrepujando o Paraíso Perdido por achismo induzido, desde a primeira alvorada do Éden. Nas nossas últimas alvoradas, que já abarcam certamente mais de mil primaveras, nosso coração que sonhava com as mil e uma noites de Nárnia, foi sofrendo primeiro a alegria da esperança pouco amadurecida, depois as tremeluzentes certezas da hermenêutica bíblica, depois a maturidade da dúvida escatológica e finalmente a desilusão da descrença, amiga fiel do pensamento dos amigos crentes, nem sempre fieis, que o tempo foi se encarregando de desmascarar, até que Deus traga a sua Luz ofuscante e lhes dirija “as perguntas do que fomos e do que fizemos”, do poeta José Costa Matos.

Mas quem de nós iria ao menos supor, com longínquas conjecturas, o que nossos olhos testemunhariam no silêncio do quarto onde rezamos o Pai Nosso? Quem iria supor que aquele Deus Pai que nos vê em secreto e nos recompensa em secreto, teria boa vontade suficiente para doar, para quem não merecesse, o precioso bem do Manuel de Sobrevivência, capaz de garantir pelo menos o enfrentamento da hecatombe com um novo norte magnético a seguir? E quem poderia supor tal merecimento, quando o próprio Filho de Deus garantiu que “não encontraria fé no seu retorno à Terra”? Pelo contrário, disse que o mundo estaria tão imundo que nem Sodoma e Gomorra federiam tanto, se ressuscitassem das cinzas como a Fênix!

“Nem Sodoma e Gomorra federiam tanto”…

Então o Senhor nos encomenda uma dúvida proposital, e portanto, benigna; ou inevitável, e portanto, maligna, para seguir limpando o terreno e aplainando as veredas para um novo João Batista que desceria das nuvens com todos os seus anjos. E neste mecanismo longitudinal entre o quarto do Pai Nosso e um quarto de nossa fé, o ano 2000 se passou e a esperança foi se apagando como as lâmpadas das virgens néscias. Com efeito, até pelo menos 2010, a treva tomou conta de Tellus ou de nossos olhos, que só viam trevas, pela claridade da luz do Evangelho, única fonte de informação a acender alguma luz no fim no túnel.

O ano 2012 vinha chegando e já não estávamos mais tão descrentes assim, uma vez que o próprio mundo estava a berrar o apagar das luzes que a descrença não via acesas, e podíamos ter boas indicações, tanto de fontes modernas (CS Lewis, Gary David, Thomas O. Mills, James McCanney, Mark Van Stone, Jimmy Raeder, Robert O. Dean, dentre outros), quanto de fontes antigas (os sumérios, os hopis, os astrólogos, os magos, etc.), de um fenômeno íntimo que se misturou ao social e vice-versa, e todo mundo chegou a esperar alguma coisa importante em 21 de dezembro de 2012. Tudo se iluminou ali, quando tudo já estava se apagando…

Mas… 2012 se foi, sem que nenhum grande sinal nos extasiasse o peito. Porém, todavia, contudo, Deus não deixaria uma dissimulação dessas ficar impune! Deus detesta a mentira, e aquela já tinha ido longe demais, ou perto demais, para não ser verdade em algum grau. O Senhor trabalhou e conduziu nossos pés e olhos a trilhar e ver que, para quem queria esconder tudo o que Deus prometeu que não ficaria encoberto para sempre, 2012 teria sido uma data procurada num turbilhão de equações da numerologia arcaica, desde Arquimedes para cá, passando pelos códices insólitos de sociedades secretas (como os templários), até os dígitos deduzidos de cálculos executados por mentes robóticas, trabalhando para a CIA, o NSA, a NASA e até a USAF.

Com efeito, os senhores do mundo precisavam inventar uma data ideal para lançar, antes do início chamado “princípio das dores”, um choque de realidade às massas amorfas de uma humanidade adormecida, com o mesmo efeito dos óculos escuros do filme “Eles Vivem”, de John Carpenter. E então descobriram que, num único fragmento de pedra erodida de uma antiga civilização até certo ponto “desaparecida” (ou abduzida), um mosaico rachado apontava para uma única data incidente sobre o calendário pós moderno dos atuais “iluminados de poder maligno”. E ali chegaram à incrível data palpável de 21 de dezembro de 2012, ano da volta da Estrela Azul Kachina dos índios Hopis.

Inobstante, como aquela data havia sido um “milagroso” achado produzido pelo estratégico plano de “preparar e sondar” as massas para a hecatombe planetária, a data real do princípio das dores ainda estava pouco ou muito à frente, talvez cerca de oito ou dez anos depois! Mas a vida de cada um de nós que curtiu o 2012, e sobretudo dos que desde 1975, esperavam a glória de ver Jesus descer das nuvens como um relâmpago que se mostra do oriente ao ocidente, foi colecionando sinais e mais sinais de estranhos fenômenos astronômicos, ora presentes aqui em Tellus, ora no nosso Sistema Solar, ora em nossa própria vida, uma vez que nenhum fenômeno subsistiria vivo com a nossa morte pessoal. E Deus fez valer a lei de que onde abundou o pecado, superabundou a graça dos sinais.

Os sinais finalmente venceram! A partir de 2012, eles e só eles imperavam firmes e fortes, livres leves e soltos como gazelas saltitantes no cio da terra, para lembrar Milton Nascimento. Eles perderam a timidez. Perderam o medo… ou ganharam a coragem das profecias bíblicas que ninguém deve desprezar! E se postavam soberbos como a primeira onda de um tsunami nascido no fundo do mar, como se dissessem: “chegamos, vimos e venceremos!”.

A Estrela Kachina agora era a bola da vez, e desfilava elegantemente como Giselle Bündchen, com a diferença de que esta tinha segredos, e aquela não tinha mais o menor pudor, e deixava vazar todas as suas histórias de reis e rainhas que visitou, nua e ardente, desde que o mundo é mundo. Contou até que tem muitos nomes, e que a Ciência moderna preferiu chamá-la Nêmesis, entendendo-a como uma estrela irmã do Sol, mas não gêmea, pois ela é muito diferente de seu irmão – ele é grande, leve, gasoso e manso, enquanto longe dela; já ela é pequena, pesada, ferrosa e feroz, perto ou longe dele, e cem mil vezes mais veloz.

Sua cauda ou cabeleira arrasta tudo o que encontra pela frente…

Tão atraente é em sua nudez cósmica que acabou criando um rabo enorme, ou então “uma cauda enorme atraiu-se pelo seu rabo”, e ela vem trazendo todos os amantes de sua beleza morena… Porquanto ela é tão viçosa que não deixou escapar dela nem mesmo a sua luz, e por isso tem uma beleza apagada ou que só se revela perto de seu irmão Sol.

Como o seu itinerário perfaz um longo caminho capturando seus seguidores hipnotizados, ela demora muito a voltar aos fregueses anteriores, e por isso há quem diga que ela vai e volta de 3.600 em 3.600 anos; outros falam em 20.000 anos; outros em milhões de anos. O fato é que toda a freguesia sabe que sua chegada é ruidosa, e ela faz um estardalhaço só com sua cabeleira esvoaçante, e seus perfumes são sentidos até nas cidades distantes, muito antes de alguém vislumbrar, de binóculo ou de telescópio, a correria dos clientes atraídos por seus aromas.

Ora, pois, o espaço sideral é tão imenso, mas tão imenso, imensurável e incomensurável que, embora ela venha voando por volta dos 300.000 quilômetros por hora, ela ainda está distante de Tellus mais de 7 “medidas de espaço”, que a Astronomia chama de Unidades Astronômicas. Mas seu poder de atração também é tão grande que, embora tenha sido descoberta há mais de 60 anos, e ainda estando distante pelas 7 medidas de espaço, já está perturbando tudo o que pelo meio atravessou, tudo o que está atravessando e tudo o que atravessará, como se à sua frente viesse um turbilhão de vento cósmico invencível, que balouçará todos os planetas filhos de seu irmão Sol. Não bastasse a perturbação que transmitiu aos seus filhos, também perturbará os filhos dos outros.

De fato, é isto o que nós, habitantes de Tellus, temos sentido nestes últimos anos, desde 2012 para cá; a saber, que o clima da Terra enlouqueceu, que os meteorologistas ora estão enganados, ora enganando-se a si e aos outros, ora obedecendo a ordens diretas de mentir sobre a situação real do clima no globo. E assim, ajudados pelos políticos corruptos, e sobretudo os políticos de Esquerda, foram obrigados a inventar uma causa ridícula para o aquecimento global, atribuindo culpa final ao ser humano, aos automóveis, fábricas, espumas de barbear com Co2 e até o pum das vacas!

Nêmesis ri. A irmã do Sol vem rindo e vaiando os cientistas de Tellus, que se deixam levar pelo medo de desobedecer seus “patrocinadores”. Ela sabe que suas velocidades de translação e rotação são tão medonhas que aquecem tudo ao seu redor, num rastro de quentura que leva centenas de anos para voltar a esfriar, e há bilhões de quilômetros daqui já apontava seu lança-chamas para frente, queimando todos os planetas e luas que ousaram estar soltos e errantes, sem uma estrela para orbitar, e que por azar cruzaram sua trajetória incendiária.

Com este dado em mente, agora entendemos o tal “aquecimento global”, que na verdade é um aquecimento “espacial”, ou de todo o nosso Sistema Solar. Tanto é que a Ciência ficou pasma quando descobriu o aparecimento de vulcões em planetas considerados mortos e frios, como Marte, Plutão e luas geladas de Júpiter e Saturno… Pior: até os planetas que não colidiriam com ela, como Tellus, veriam seu núcleo superaquecer e com isso despertar seus próprios vulcões, coisa que na Terra anunciaria o fim quando o magma subisse e finalmente rompesse a crosta do Yellowstone, sem que nada pudesse impedir sua explosão.

Como evitar a subida do magma com o planeta a cada dia mais quente?

Com efeito, posso confessar que Nêmesis também me atraiu bastante, como uma antiga musa de meus tempos de juventude. Ela é forte, peituda, atraente e viçosa, embora não tão linda como o Sol ou a Lua. Porém penso que virou pastora, com cargo na pastoral da saúde cósmica, pois seu irmão Sol vagueia pelo cosmos inteiro sem nunca “queimar” ninguém, sem nunca afastar alguém de sua órbita, e sem nunca “surrar” ninguém. Mas ela, não! Sempre que vai e volta castiga os maus, corrigindo os que merecem correção, e matando quem merece morrer.

Logo, estou encantado com ela, tal como estava com uma professora primária que, embora linda, não hesitava em castigar-me quando eu desobedecia as regras da escola. Mas também estou encantado pelo desencanto que ela me deu para com este mundo tenebroso, pois antes dela eu ainda via algum sinal de Deus no comportamento das pessoas… – Mas agora só vejo corrupção, ou não vejo nada que não seja falsidade e interesse financeiro ou sexual. Certamente não consigo ver todo o mal do mundo como Deus vê, pois somente os santos enxergam bem. Mas meu encanto pelo desencanto valeu muito mais que meu encanto pelo canto de vitória que eu pensava obter neste mundo. Com certeza agora certa, o canto e o encanto não pertencem a este mundo. Nem eu.

 

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