O melhor homem do mundo jamais trabalhou e apenas sobrevivia

Se João Batista foi considerado o maior homem do mundo pela boca do próprio Jesus (Mateus 11,11), temos que ver a verdade: ele nunca trabalhou profissionalmente, e apenas estava no mundo a sobreviver, comendo a comida gratuita dos desertos (gafanhotos e mel de colméias).

São João BatistaQuem foi João Batista? Quem foi o profeta que preparou os caminhos e facilitou os discursos de Jesus? Simplesmente um Zé-ninguém! Isto é: Um Zé-ninguém para os padrões do homem moderno. Pior, João não era nada se comparado aos profissionais de hoje, todos engajados em “missões” para as empresas, sem tempo pra nada e preparados obsessivamente para o mercado de trabalho, com cursos e diplomas os mais diversos e atualizações constantes. Repetimos: Quem seria João hoje em dia? Provavelmente um peso morto para os amigos, família e sociedade, um pedinte, alguém que ninguém queria ter por perto, pelo risco de ouvir dele um pedido de e$mola.

Pior: João não tem diplomas, nunca fez nenhum curso, não toma banho (pelo menos não toma com a frequência com que tomamos hoje), não se interessa pelo mercado de trabalho, não está se preparando para nenhum cargo e só faz aquilo que gosta, sem remuneração, a saber, pregar a chegada do Reino de Deus. A tudo isso só caberia uma resposta, a de Paulo, à luz do trecho onde o apóstolo diz: “aquele que não trabalha também não deve comer!”. Ora, mas a João não cabe a bofetada de Paulo, pois ele se sustenta a si mesmo e não precisa de ninguém, nem mesmo de uma mulher para lhe ser “auxiliadora idônea”! Assim, como ele vive – com saúde de aço – a se alimentar apenas daquilo que suas mãos podem colher da natureza (gafanhotos e mel de abelhas do deserto: os nutricionistas de hoje, autores da ditadura da magreza, devem atentar para este novo filão: João era tão magro que Jesus o chamou de “caniço agitado pelo vento”! Logo, se João era um magricela e tinha saúde de aço comendo somente grilo e mel, talvez grilo e mel tenham vitaminas e substâncias tão fortes que as indústrias atuais deveriam comercializar para as academias e os bombadões de hoje, que tal a dica?), ninguém poderia reclamar de ele estar sendo “pesado” a alguém, pois ninguém estava pagando nada para ele!

cropped-deserto1Devido a tudo isso, muitos teólogos levantam a hipótese de que João não fosse exatamente um ser humano: talvez fosse um “híbrido angélico-humano”, ou algo como um novo “Noé”, um novo Enoque, cuja vida era alimentada diretamente por Deus – como foi Jesus alimentado pelos anjos após os 40 dias de solidão no Monte da Tentação (Lc 4,1-13) – e por isso ninguém poderia repetir ou imitar a vida de João, mesmo no tempo dele (ainda hoje há casos parecidos com o de João, mas o indivíduo não prega nada nem salva ninguém, mal conseguindo salvar-se! Veja NESTE link). Com efeito, mesmo que alguém decidisse abandonar tudo e ir viver isolado num rincão inóspito ou numa ilha paradisíaca, não estaria cumprindo a missão de João, que recebia milhares de pessoas todos os dias, ávidas para ouvir a mais pura e dura pregação de penitência, na qual ele sempre repetia: “O tempo do fim está próximo: arrependei-vos e crede no Evangelho”. E talvez, se alguém se isolasse para tanto, certamente teria muita dificuldade em viver apenas de gafanhoto e mel, não apenas porque nem todo lugar abriga gafanhotos (ele teria que comer ratos, lagartos ou outros insetos, nem sempre sadios), como também porque hoje em dia o fenômeno do Sumiço das Abelhas está acabando o mel e afetando todo o globo, e muitos cientistas dizem que este sumiço pode até significar o fim da raça humana.

Enfim, mas afinal, que lições estamos farejando ao rever a vida de João Batista? Trata-se de uma elucubração de acordar qualquer um; veja.

Quem quer que esteja vivo atualmente na Terra deve estar vivendo uma das seguintes situações de subsistência:

(1a) Nasceu rico, filho de grandes heranças;

(2a) Nasceu filho de alguém que tem um bom apadrinhamento político, e por isso chegou a entrar num ótimo emprego, de alta remuneração;

(3a) Nasceu com talentos suficientes ou um dom excepcional que lhe fez alcançar um trabalho bem remunerado naquilo que gosta de fazer, e por isso nunca teve dificuldade em se empregar;

(4a) Nasceu com um gene de disposição incansável, que lhe levou a estudar a fundo as matérias “inúteis” das escolas modernas, conseguindo diplomas consecutivos, sendo aprovado nas provas e concursos que pagou para concorrer a uma vaga entre 1.001 candidatos menos preparados. Etc.

Enfim, afora estas hipóteses, se o cidadão não tiver nenhuma tendência à desonestidade ou soluções ilegais, ele deve estar vendo urso de gola para entrar no mercado de trabalho, não possuindo riqueza inata, pistolões, talentos e estudos, e deve estar à míngua a bater à porta das empresas, recebendo em troca sonoros “não há vaga”, ou só temos vaga para trabalhos medonhos e pagos com salário mínimo.

The_Appearance_of_Christ for JohnLogo, o caso de João Batista também aponta um caminho de salvação. Porquanto justifica, com o carimbo de Deus, o estado deplorável de alguém que, não tendo apadrinhado político, nem riqueza de herança e nem aptidão para memorizar matérias inúteis para a sua espiritualidade (tais como contabilidade, estatística, economia, etc.), tenta sobreviver neste século sem ser pesado a ninguém. Porque João resolveu tudo isso – recebendo instrução apenas de Deus – com seus próprios recursos naturais, usufruindo dos frutos gratuitos da própria natureza.

A pergunta é: alguém poderia fazer o que João fazia, hoje em dia? Quem poderia não estudar e não trabalhar e mesmo assim viver feliz, bem alimentado apenas com aquilo que colhesse de graça do ambiente em que vivesse? Há alguém no mundo moderno que, sem estudar, sem trabalhar e sem receber ajuda financeira de ninguém, continua vivo, sadio e plenamente ativo no sentido cristão? Sim; deve haver alguém assim, pois o mundo é muito grande e ainda há áreas naturais onde eremitas são vistos a dar exemplo de abnegação e sobrevivência, embora jamais pregando o evangelho. Os canais Discovery, Nat Geo e History estão cheios de exemplos dessas pessoas, que vivem sozinhas, sadias e felizes, embora nenhuma atraindo multidões e salvando almas.

Enfim, faz muito bem à nossa consciência ouvir exemplos como o de João. Inda mais quando nos lembramos que quando Jesus disse “entre os nascidos de mulher ninguém foi maior do que João”, o Salvador estava se lembrando dEle mesmo (i.e, de si mesmo, pois Ele também nasceu de uma mulher), na humildade de se ver como Homem perfeito, mas com humildade infinita. Então, não admira que, quando Jesus se comparou a João na questão da bebida, julgou João até mais santo do que Ele neste quesito, pois João era absolutamente abstêmio, enquanto Jesus gostava bastante de um bom vinho! Alguém conhece algum exemplo de humildade maior do que a de um Deus que se considera “inferior” a um homem? Logo, João é o maior exemplo humano a iluminar a nossa vida, e que Deus nos permita chegar um dia a poder, pelo menos, desatar as correias de suas sandálias!

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