O teste ideal para provar o inimigo interior

“GUERRA INTERIOR PROVA PERDIÇÃO ESPIRITUAL DO HOMEM” – Se a cirurgia para separação dos dois lados do cérebro revelou uma medonha “mão alheia”, o que aconteceria de ela fosse realizada na Humanidade inteira?

O Caso de Karen Byrne é extraordinário. Um verdadeiro divisor de águas na História da Medicina e talvez, na História da Humanidade. Um ser humano com a moléstia de epilepsia serve de prova para se indagar sobre a hipótese de toda a Humanidade ser submetida à cirurgia de separação dos dois lados do cérebro e seus resultados absolutamente imprevisíveis. É este o tema desta reflexão, que também tem por base o pensamento de um autor que somos obrigados a manter anônimo (doravante chamado apenas “Dr. T”), autor de um livro que chamamos “O Segredo da Vida Abundante de Jesus”. Mas para o leitor poder se situar melhor, é imprescindível a leitura da notícia recente sobre Byrne, que pode ser encontrada neste link.

Após ler a notícia, uma consciência mais atenta imediatamente percebe uma realidade terrível por trás da aparente “quietude” da psique humana, e logo se dá a perguntar: “a ridícula inimizade entre aquela mão esquerda e a direita é um caso fortuito, ou seria regra geral com todos? Aquilo seria uma doença parasita da epilepsia – uma doença dentro de outra doença – ou é a patologia em si, que se manifesta como epilepsia enquanto os dois hemisférios do cérebro estão ligados? Em todo caso, sendo a doença em si ou uma derivada dela, que outras derivações poderia assumir nas outras pessoas? Ou que outros sintomas de ‘inimizade’ ocorreria nos bilhões de cérebros submetidos à cirurgia?”…

Todas essas questões são válidas e plausíveis, infelizmente. O “Dr. T” descreve em seu livro não apenas uma mãozinha boba que se rebela e esbofeteia o rosto de seu “dono” (ou uma perna que desvia o caminho que a pessoa escolheu para seguir), mas toda uma guerra encarniçada milenar, travada entre o subconsciente e o consciente de cada um de nós, que aqui vemos perfeitamente identificados com os dois lados do cérebro. É óbvio que não são os lados propriamente ditos, que nada mais são que duas porções de massa cinzenta “moldadas a mão” para caber nos espaços intracranianos em formato de meia-lua. Na realidade, aqui se trata da dupla consciência humana localizada ou mantida pelo campo neuronial produzido por cada um dos lados do cérebro, e em cujo histórico parece ter havido uma cisão (ou rebelião, segundo CS Lewis) que a união física dos dois hemisférios mantém “quieta”, quieta até certo ponto.

Na verdade o Dr. T nada disse de novo para quem conhece bem a Bíblia Sagrada, e apenas pintou o quadro todo com as cores mais vivas da cruenta guerra interior [O exemplo que Paulo deu de si mesmo, dizendo que “o bem que quero fazer não faço, e o mal que não quero fazer, esse faço” (Rm 7,15), é suficiente para lembrar o quanto a Palavra de Deus é pródiga em apontar a terrível contenda no coração de cada um de nós]. Porquanto nas Escrituras está dito que naquele fatídico dia da Queda, a Humanidade inteira rebelou-se contra Deus e com isso perdeu a sua paz, não apenas com o Criador, mas consigo mesma e dentro de cada indivíduo. A guerra, pois, é antiqüíssima, e certamente todas as desgraças vistas fora e dentro do ser humano são apenas o corolário inexorável dessa batalha, e felizes somos nós quando podemos ver tais resultados. Esta situação, de combate constante dentro da alma, é justamente o que a Bíblia chama de PERDIÇÃO ETERNA, e foi por causa dela que Jesus Cristo veio ao mundo, como única esperança de um “armistício” (condição sine qua para uma salvação anímica da espécie humana).

Com bilhões de cérebros já submetidos à “cirurgia” aqui imaginada, os sintomas decorrentes se centuplicariam e se diversificariam inexoravelmente, e os médicos encontrariam os mais diversos tipos de pessoas que se mutilariam, se machucariam em acidentes propositais, se tornariam surdas ou mudas para sempre, enfim, gente que se suicidaria por toda parte, como resultado da mente fendida e do ódio entre o consciente e o subconsciente. Neste sentido, nunca poderia ficar mais clara e precisa a frase: “A Humanidade está perdida”.

E quem disse que o estado atual é diferente desta hipótese aqui levantada? Se fosse diferente, a Bíblia não trataria o caso como gravíssimo, o qual precipitou o Filho de Deus à tortura da via crucis, levando o próprio Deus a experimentar a morte. E mais, obrigando como única saída para Deus o ter que descer à imundície do Hades e repetir o apelo incansável de seu Amor, que está à porta de nosso coração a bater eternamente com lágrimas (Ap 3,20).

Até aqui tudo pode ser considerado como uma descrição “em tese”. Porém, na prática, as coisas podem ser muito mais graves, na medida em que é no cotidiano da matéria que essas coisas passam despercebidas, pelos inúmeros disfarces que cada pessoa encontra para esconder a sua real situação de conflito interior, além da cegueira que o corpo humano tem para com as coisas do espírito. Assim sendo, toda a rotina diária de reclamações, de medos inexplicáveis, de angústias imprevistas, de pânicos súbitos, de depressões, de intrigas sem razão, de invejas ilógicas, de despeitos enciumados, de antipatias gratuitas, de amizades fingidas e inimizades camufladas, tudo isso, tudo tudo, pode ser traduzido como “a mão esquerda que tenta golpear a direita”, as quais estão sendo seguradas pela “turma do deixa disso”, que é a união forçada pela ligação física entre os dois hemisférios cerebrais.

Creio que esta reflexão nos dá todos os recursos lógico-filosóficos para entender o que é de fato a longa sina da Humanidade neste Planeta. O leitor deve lembrar – e concordar – que é a violência urbana e todo o sofrimento dos “inocentes” que causa mais espanto e desesperança no futuro da Terra, e é esta desesperança que mais seguidores congrega no incontável exército dos céticos. Aliás, a guerra interior é tão terrível que a paz sente dificuldade para habitar até no coração dos crentes, e isto explica soberbamente a profusão de denominações e divisões no meio da Cristandade.

O armistício, pois, é um milagre raro, e que exige a profunda e ininterrupta operação de Deus, sem contar as micro-cirurgias (chamadas “livramentos”) operadas pelos seus auxiliares, os anjos. É, assim, impossível pensar numa salvação do Homem sem pressupor um infinito amor e longanimidade por parte do Criador, que colocou todo a sua “equipe cirúrgica”, todos os hospitais, UTIs e laboratórios celestiais a serviço do Homem, deixando o cosmos inteiro apreensivo e interrogativo, a pensar: “Quem irá se salvar daquela hecatombe?”… [Esta idéia de incerteza quanto à salvação foi expressa por Paulo em Rm 8,19-22, e aqui só um milagre de humildade poderá fazer alguém sentir que a carapuça da palavra de Paulo também lhe cabe, em sua abrangência genérica e polissêmica].

Com efeito, é no cotidiano de nossos lares e ambientes que podemos detectar os sinais visíveis e disfarçados desta guerra, com olhos sujíssimos pela forte tendência de cada um de nós de só ver os malefícios da guerra dentro dos outros, e não dentro de nós. A empregada que não limpou o quarto direito porque um dos lados de seu cérebro lhe deu preguiça e venceu; o patrão que não lhe permitiu um recesso porque um dos lados de seu cérebro lhe venceu, convencendo-o de que você não merecia o tempo pretendido; a amiga que não lhe deu o recado do rapaz porque um dos lados de seu cérebro lhe fez desejar o mesmo homem; o irmão que lhe negou uma vaga em sua empresa porque um dos lados de seu cérebro lhe convenceu que trabalhar com irmãos traz má reputação; o pai ou a própria mãe que atende melhor o filho predileto porque um dos lados de seu cérebro lhe fez ver o maior tempo que aquele irmão ocioso dedica a eles e menospreza o pouco tempo do outro irmão ocupado pelo trabalho; tudo isso sem contar as rixazinhas por causa de comida, compras, festas, aparência, beleza, viagens, etc.. Os exemplos são inumeráveis, e o leitor, pode apostar, não encontrará nenhum problema humano em cuja base não esteja essa cisão interior, que interfere e extrapola para o dia-a-dia comum de todos nós.

É claro que esta guerra interior não pode ser facilmente explicada com nenhuma ciência humana, dentro ou fora da Medicina. Nem mesmo a teologia convencional teria alguma coisa a colaborar, mais que o exclusivo foco da Palavra de Deus. O que resta para o entendimento humano de seu próprio drama interior é uma investigação profunda de sua própria psique, feita exclusivamente com apoio da pesquisa bíblica descomprometida com interpretações proselitistas, e, se possível, acompanhada das orientações técnicas do Dr. T e dos mestres CS Lewis e GK Chesterton, sob o peso de uma pesada humildade em olhar para si sem medo e sem os velhos simulacros do ego. A guerra é enorme, cruenta e muito mais danosa que uma 3ª Guerra Mundial, que mataria apenas corpos e até pouparia os egos inflados que a detonaram. É a guerra definitiva, total e decisiva, da qual depende todo o mistério da Criação e toda a “esperança” de nossa salvação nutrida no coração de Deus. Nela combatem dois seres muito mais poderosos que Deus e o diabo (por assim dizer, metaforicamente, guardadas as devidas proporções), pois que são exatamente o deus e o diabo de cada um de nós, batizados com nosso nome e com nosso mesmo CPF, e dos quais depende a nossa salvação pela soberania cósmica do Livre Arbítrio. É isso.

Está matada a charada. O caso de Karen Byrne cai como uma luva sobre cada conceito da psicologia, da sociologia e da antropologia, e creio que aqui o maior mistério da Humanidade está solucionado (mistério interior, claro!). Porém, e infelizmente, ver não é curar. Mas é o primeiro passo. A Humanidade já sabe o que está errado, onde errou, desde quando errou, contra Quem errou, e quanto mal produziu. Talvez não saiba, hoje, por que errou, e muito menos para quê errou. Porque o vazio da proposta original de rebelar-se contra Deus é tão ilógico e destrutivo, que nem mesmo o seu propositor se atreve, nesta altura do campeonato, a reconduzir a mesma lorota. Pela primeira vez na História, estamos com a faca e o queijo na mão. Resta cortar o queijo, com os dois lados do cérebro.

 

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