Os absurdos contra Deus são de longa data…

Vozes ateístas ou a favor de um Deus despersonalizado são antigas, é verdade, porém a modernidade deu a elas as falsas cores da “Razão e da Ciência”, que detestam a pobreza mas dela tiram proveito para se manter popular e influenciar a Humanidade “pelo prestígio que gozam as maiorias”.

Um autor famoso, do início da Modernidade, escreveu uma “prosa” monologal de extremada heresia contra uma verdade central do Cristianismo, com ares de profeta do Velho Testamento, como se tivesse recebido de Deus a Sua própria Palavra para orientar o povo contra o verdadeiro Deus, e constituindo, desta forma, um dos mais danosos discursos antiteístas de quantos a raça adâmica já produziu contra o Autor da Criação.

Refiro-me ao “mestre” Baruch Spinoza (ou Bento Spinoza), autor de obras como “Ética demonstrada à maneira dos geômetras” (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata); “Tratado Político”; “Um breve Tratado sobre Deus e o Homem”; “Melhoramento do Intelecto (De Intellectus Emendatione); “Princípios da Cartesiana”; “Tratado sobre a Religião e o Estado (Tractatus theologico politicus), dentre outras, o qual se tornou um ícone do “panteísmo ilusionista” da Era das Incertezas. Além desses livros, Spinoza um dia deu uma de gaiato e resolveu imitar os profetas, escrevendo uma espécie de “carta-divina”, na qual o suposto “deus-pan” (do panteísmo dele), pasmem, ENSINAVA acerca de Si mesmo, com ares de autoridade apostólica e com o intuito, seguramente, de enganar a Humanidade, cumprindo, isso sim, a vontade dos contrários a Deus.

Pior, os incautos pós-modernos, baseados no cantar de um galo que nunca viram, deram todo prestígio para tal texto, fazendo-o desfilar de papa-móvel pelas ruas de Roma e da literatura, ao sabor das correntes reencarnacionistas e panteístas mais radicais. Tanto é assim que, em plena luz da Era das Comunicações, traduziram o material sob o título de “Deus Segundo Spinoza”, e o elegeram à categoria dos grandes clássicos do pensamento humano, indicados para integrar os currículos de cursos de filosofia, antropologia, sociologia e até teologia, noutra ironia pós-moderna.

No tal monólogo, Spinoza discursa empaticamente (como se fosse Deus falando por ele) e às vezes antipaticamente, dando uma de bom conselheiro das “boas” virtudes, quando não passa de um amontoado de instruções mais cabíveis aos manuais lascivos das sacerdotisas de Eros, ou aos velhos livros de erotismo do Oriente, embora sem nenhuma gravura a ilustrar o sexo que perpassa nas suas entrelinhas. É óbvio que só as entrelinhas testemunham isso, já que a ideia é instruir os incautos acerca de uma suposta inteligência cósmica, a qual, por sua aparente e inexorável “indiferença”, jamais deveria ser cultuada de modo formal, sendo, quando muito, chamada a emprestar seu prestígio para apoiar filosofias liberalizantes ou “libertárias” (quando não passam de libertinas).

Logo, partir de um deus longínquo, eólico, nefelibático (de “energia pura” – diabo é quem entende), indiferente e incapaz de interferir nos detalhes do cotidiano, para chegar a um deus-permissivo e imoral, seria o corolário lógico e inevitável para quem usasse um raciocínio desses, se fosse um ser humano e feito de carne como nós, carne essa ligada intimamente aos instintos mais básicos das espécies primatas. Neste ponto nosso argumento pode fazer um intervalo e dizer que, “sendo todo homem mentiroso e Deus verdadeiro” (Rm 3,4), a única criatura que poderia falar por DEUS seria um anjo, e mesmo assim a história está cheia de anjos que pecaram!

Spinoza então usar o nome de Deus em vão e ensinar, nas entrelinhas, que a única vida que se deve viver é uma vida libertina, onde ninguém dê pitaco em coisa alguma que alguém queira fazer, não é nada de espantoso e é até esperável, uma vez que todas as almas humanas anseiam pela liberdade total (originalmente proposta por Deus mas infelizmente conspurcada na Terra), a qual só é possível com o alegre compromisso de se ser benigno para com os outros, já que liberdade total sem responsabilidade é sinônima de criminalidade. Entretanto esta mesma liberdade, associada compulsoriamente à responsabilidade, termina por desagradar às almas (ou à maioria delas), uma vez que implica em comprometer-se com a vida alheia – não apenas em usar os outros para o prazer pessoal, mas em ajudar nos sofrimentos, defeitos, vícios, atrasos, desorganizações, chatices e toda a gama de inconvenientes que a convivência humana possui. Não é à-toa que o maior exemplo de alma boa dado por Jesus se chamava “o bom samaritano” (Lc 10,30-37), e ele era o tipo do cara que, se abandonava um dever para fazer uma caridade, quanto mais um prazer!…

O bom samaritano era e é o HOMEM LIVRE da proposta original de Deus, e toda a liberdade que gozava era diretamente proporcional à caridade que fazia, e sem esta não teria aquela. Fica no ar a pergunta: é ESTA a liberdade que deseja o conjunto da Humanidade? Pior: é esta a liberdade que propõe Spinoza em seu famigerado monólogo?

O “mestre” panteísta fala fazendo pedidos! Fala como se fosse o último posto de gasolina no deserto ou a última cocada preta da rainha baiana! Fala como se fosse uma autoridade infalível, ou um novo papa da autoajuda, exigindo atenção, louvação e cumprimento. Pede para que ninguém ore mais! Pede para que abandonemos as igrejas! Mente descaradamente dizendo que Deus nunca apontou um pecado em nós! Põe toda a culpa do mal no mundo nos ombros daqueles que nos retransmitiram a religião e a fé! Desmoraliza e anula todo o valor das Sagradas Escrituras, temendo visivelmente encontrar nelas algo que lhe impeça a libertinagem sublinarmente pretendida! Diz que Deus jamais será encontrado em livro algum, e apenas os que souberem “ver” (ou inventar) um deus nas flores e nos rios O verão de alguma forma, já que Ele não tem forma mesmo! Pede para que nada peçamos a Ele (o contrário do que pediu Jesus), nem mesmo perdão! Neste ponto, lembra a letra de uma música de Gilberto Gil que precisa ser lida com muito cuidado (“Drão”), a qual parece dizer que o pior de todos os crimes contra a infância seja encarado por Deus como “nada a perdoar”, no sentido de que não há pecado algum para ser perdoado. É óbvio que Gil não se esqueceu da pedofilia nem do holocausto, e com certeza não pensa assim.

E tem mais: ao dizer que os próprios pecados foram colocados no coração humano pelo próprio Deus, termina por reforçar posições pelagianas e até satanistas, denunciando Deus como o único culpado de tudo! Com isso emenda e induz o leitor a ver Deus como o supremo injusto, já que Ele mesmo teria inventado e pecado e depois ainda condena os pecadores a um inferno de fogo! (jamais lhe passa pela cabeça supostamente genial que quando Deus deu a liberdade, também permitiu que os rebeldes não O quisessem bem, e por isso não iriam, por si mesmos, querer a companhia eterna de Deus, indo sozinhos para longe, sendo este longe um “inferno pessoal”, no sentido da curtição da ausência de Deus, que para Deus é a infelicidade total! ESTE é, afinal, o único inferno que existe! E as almas vão para ele por livre e espontânea vontade).

Tem mais: Spinoza pede para que “esqueçamos os 10 mandamentos”! (aliás, qualquer tipo de lei… O que deve preocupar seriamente as autoridades legitimamente constituídas, em seu dever de zelar pela paz e pela boa convivência social). Diz que as leis são “artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti”: grande discurso para auditório de presídios!

Depois disso, o conselho “genial” que ele parece tirar da cartola de um mágico alienado, apenas pede que haja respeito ao próximo, como se isso fosse algo além do óbvio ululante! Pior: como se fosse algo que o Zé-povão entende direito, e com ele tivesse diminuído as estatísticas da criminalidade! (Perdoado pela sua era, certamente ele nunca leu a quantidade de livros e mestres e até idiotas pregando o respeito como única solução, e não vendo que se apenas o respeito bastasse, o mundo não estaria tão violento quanto agora, nos nossos dias). Como ninguém entende bem O QUE É o Respeito, peço que leiam este artigo aqui.

Em meio a tamanho descaroçar de ignorâncias, Spinoza cai em contradição (um escorrego ou uma insidiosa interferência da Verdade?) para com seus próprios defensores reencarnacionistas, quando diz que esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso; esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas”. De fato, é única, sim, do ponto de vista humano, pois no passado éramos pensamentos de Deus e no futuro seremos “ressurretos de Deus em corpo glorioso”, coisa jamais compreendida por Spinoza e os céticos do mundo. Todavia, é sim, uma prova, um degrau, um passo no caminho, um ensaio, um prelúdio para o mais belo e arrebatador Paraíso de George MacDonald. E todos levamos o registro do que fomos e do que fizemos (Lc 21,18), porque nada se perde…

Em seguida Spinoza diz: “tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno”: haveria aqui outra interferência da Verdade, que nem um cético consegue impedir? Porquanto o inferno, conquanto seja mental, afasta as almas para longe daquele Deus a quem não quiseram amar (amar = obedecer) e o Céu, que não é mental, aproxima as almas daquEle a quem amaram, muitas vezes nem sabendo que era amor a Ele, embora direcionado ao próximo, como Jesus explicou em Mt 25,34-40 (quando o fizestes, a mim o fizeste) e I Jo 4,20-21.

Spinoza segue falando como profeta e pede para que vivamos esta única vida como se nada mais houvesse após a morte. Com isso, aconselha que vivamos os nossos prazeres e apenas gozemos a vida, que ao final Deus nada perguntará a nós, a não ser: “gozaste mesmo?”… – Ora, nem é preciso ser cristão para lembrar que foi contra este pensamento que Jesus contou a terrível parábola do homem louco (Lc 12,16-20), a qual obriga àquela pergunta irrespondível: “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”… (Mt 16,26).

O “gênio” não parou aí. Pediu para não louvarmos a Deus (CS Lewis explicou que louvar ao Senhor não é uma necessidade dEle, e sim nossa! E só quem viveu um inferno mental sabe bem disso); pediu para não agradecermos a Deus, quando Jesus se entristecia quando apenas um ex-aleijado voltava para agradecer, após a cura de nove doentes; e pediu, pasmem, para não termos fé, e isto basta! O auge da heresia está aqui: “Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti”. Erros colossais! Crer não é supor! E muito menos adivinhar! Crer é usar a Razão Dedutiva, que o próprio Spinoza diz honrar, e descobrir Deus na lógica da Criação, sendo Deus a única “Coisa” que torna a Criação lógica. Sem Ele, tudo vira um absurdo, e assim, sendo tudo absurdo, é também absurdo não crer. Além do mais, crer é também pensar e sentir, e por isso é impossível sentir sem crer! Senão vejamos: quem pode sentir o amor de uma esposa (ou de um marido) sem acreditar que tais pessoas não sintam amor por nós? Assim, a fé é a única ferramenta que possibilita o amor, pois ela é feita da mesma matéria deste, a saber, a confiança!

Finalmente, a quantidade de aberrações pontuais desse discurso de Spinoza é tão acintosa que chega a deixar a dúvida se de fato o “mestre” falou assim. Porquanto tínhamos Spinoza em boa conta, como um bom panteísta até certo ponto inocente, confundido pela indisfarçável presença de Deus em todos os pontos da Natureza e obrigado a pensar muito para descobri-lO além dela. Porém, agora que a máscara caiu, devemos voltar nossos olhos para mestres como CS Lewis, John Stott, Paul Yansey, JB Phillips, etc., ou melhor, para os pais da fé, como Pedro, Paulo, João, etc. Este sim é um bom conselho: fique com estes, pois eles não apenas usaram bem a inteligência que Deus lhes deu, mas tiveram com Ele experiências que lhes bastaram para amá-lO acima de tudo, bem como ao seu próximo e, afinal, à Verdade.

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