A impossibilidade de se dar um “NÃO” ao ditador

Mergulhada numa crise moral generalizada, a Humanidade caminha para a surdez total ou para o choque da rejeição violenta, quando acordar e desejar mudar o rumo das coisas…

Não sei como conduzir este assunto sem tratá-lo como uma história ficcional, cujas personagens centrais estão vivendo num planeta imaginário, no qual a escalada da depravação e da violência foi longe demais e teve, para sua própria sorte, a bênção de uma intervenção divina que acabou com tudo, como se uma destruição física impedisse um desejo d’alma e como se uma explosão nuclear fosse um castigo de Deus, e não um reparo providencial de emergência. Na realidade, porém, foi justamente isto o que aconteceu em Sodoma e Gomorra, há milhares de séculos atrás. Portanto, como diria CS Lewis, “vamos simular” ou imaginar.

Primeiro exemplo: Num planeta “A”, certa vez um jovem iniciou-se na experimentação da toxicomania e tudo era alegria e curtição. A droga lhe recompensava bem (em termos de prazer) e todas as belezas lhe fluíam aos olhos sadios, sem qualquer sinal de que o amanhã lhe traria alguma surpresa desagradável. E a vida foi sendo levada assim e tudo corria bem, até que…

Um dia algo mudou em seu interior, e isto pôde ser chamado de milagre. O prazer secou e o desejo se foi, e estranhamente ele deixou a droga, num desses raros milagres testemunhados por alguns artistas de lá que já haviam provado de tudo. Porém o principal deste milagre foi justamente ter sobrevivido, não propriamente à droga, mas aos traficantes (ditadores), que jamais aceitam uma debandada da máfia ou a perda de uma fonte de renda!… Mas vamos contar outra história ficcional, mais forte, no quesito “expor a rejeição final do ditador”.

[Início da segunda história ou segundo exemplo]: Num planeta “B”, a Direção de uma emissora de TV aceitou o papel de erotizar o mundo, para o bem de seus próprios ninfomaníacos e de seus consumidores externos, ou seja, aqueles que pagam os olhos da cara para terem seus produtos propagandeados por ela (estes disseram que, se o mundo fosse erotizado, tanto os homens da TV teriam muito mais mulheres aos seus pés, quanto ajudariam a vender todos os seus produtos, pois os consumidores hipnotizados pelo sexo facilmente se renderiam à tentação de comprar mais, pois tudo conduzia para o erotismo). E melhor: se ela aceitasse aquele papel, todas as outras emissoras, também cheias de tarados, iriam entrar na onda e também fariam programações erotizantes, de tal modo que isso geraria uma pandemia mundial de depravação que a todos contagiaria e beneficiaria. E assim foi feito.

Passaram-se mais de 7 décadas de imoralidade crescente na TV, numa explosão de erotismo que acabou por destruir toda a moral e a ética; e as próximas décadas (antes do fim) foram de total omissão ou aquiescência daquela sociedade para com a depravação, a ponto de não acharem nada anormal as famílias transarem juntas e os pais permitirem suas filhas dormirem com três ou quatro homens, no mesmo quarto em que passaram a noite transando uns com os outros. Isto demorou quase dois séculos inteiros e ainda demorou bastante para arrefecer, em confronto com as gerações dos séculos seguintes.

Lá pelos idos do ano 2040 deles (esta data foi um palpite muito otimista!), a escalada da violência chegou a níveis tão gritantes e ameaçadores da sobrevivência planetária que uma estranha sensação começou a tomar conta do coração daquela Humanidade. Alguns espíritos menos tolos começaram a sentir ora pavores estranhos, ora um certo tédio, irrigados pela diminuição da recompensa prazerosa da depravação, o que fez germinar o pensamento de que o abuso da liberdade os estava cegando ou insensibilizando-os para outros prazeres (os quais, de tão elevados, talvez ainda nem tivessem sido apresentados às suas mentes).

Depois desse tempo, abandonados à própria sorte como muitos masturbadores em bacanais, descobriram-se sem querer acompanhados de outros igualmente entediados com aquilo tudo, e sua sensação não era uma coisa individual ou LOCALIZADA ali ao seu redor, sendo sentida (por milagre) também no meio das surubas dos ricos e dos produtores de TV.

Então chegou um “Dia D” e aquele povo decidiu dar um basta na depravação, e até as suas emissoras de TV foram, paulatinamente, mudando sua programação, estimuladas pelas novas políticas educacionais do planeta, que não apenas ministravam civismo, cultura e espiritualidade, mas reintroduziam a moral e a ética que levou toda a sociedade a diminuir o consumismo, o qual estimulava a onda erotizante das propagandas e das novelas.

Uma reunião de cúpula extraordinária foi realizada pelo “G-18” (o grupo dos 18 países mais poderosos daquele planeta) e os governantes decidiram PROIBIR a depravação, e nem mesmo a liberdade de imprensa se viu livre de censuras prévias.

Porém tal não pôde ser feito. I.e., quando o decreto proibitivo saiu, os líderes mundiais foram acossados por um extraterrestre maligno, que os proibiu de proibir a onda erotizante, sob pena de se verem em depressão profunda, suicídios, assassinatos em família e, enfim, devastação planetária.

Noutras palavras, todo o erotismo massificante, que conduziu as multidões até as mais sórdidas baixarias, e que muitos julgavam um ardil intencional por parte dos dirigentes aliados aos comerciantes internacionais, foi descoberto como originário de uma mente doentia não-humana e que não aceitaria retroceder na escalada depravatória, ameaçando de morte todo o planeta. Ou seja, ficou patente a impossibilidade de se dar um NÃO ao inimigo e à sua real intenção de afundar o mundo numa “Sodoma globalizada” (com crianças e incestos no meio), independente da vontade dos tarados e sodomitas daquele mundo. [Fim da segunda história].

A pergunta é: tem alguma possibilidade de esta história corresponder a algum fato real em nosso mundo? Melhor dizendo: há alguma lógica na hipótese de a depravação ser motivada por uma vontade não-humana e esmagadora, que rejeitaria a sua proibição? Alguém já pensou que por trás de toda a maldade humana existiria uma vontade sobre-humana ou infra-humana?… É isso que CS Lewis mostrou no livro “A última Batalha” de suas “Crônicas de Nárnia”, quando apresentou, ante os olhos pasmos de seus leitores, a figura horrenda e pútrida de Tacha, grande deus do Mal que estava por trás de todas as maldades em Nárnia. Será que Lewis imaginou um absurdo ou uma coisa impossível? Ora, não é nem nunca foi do feitio dele fazer isso. Pelo contrário. Sempre deixou os aparentes absurdos alicerçados na indestrutível bigorna da verdade.

Estamos, assim, autorizados a pensar o mesmo de nosso mundo. Tanto em relação ao que ele escreveu nas “Crônicas”, quanto em relação aos dois exemplos de histórias dados no início deste artigo. O ditador, seja ele um traficante ou um deus Tacha, jamais aceitará uma rejeição por parte dos viciados (em drogas ou em sexo). Logo, é difícil acreditar que a mídia venha a moralizar-se e a espiritualizar-se para uma legítima santificação cristã; porém, se vier a fazer isso, naquela hipótese de um milagre absurdo, ninguém deve esperar, sob pretexto algum, que a Humanidade consiga “espaço” para a santidade na Terra, enquanto seu governante-impostor não for expulso para aquele lugar preparado para o diabo e seus anjos!… E também, em relação a nós, resta vigiarmos bem a nossa vida cotidiana (que é visível para homens e deuses) e evitarmos os vícios, pois todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.

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